Anúncio prematuro da morte da geringonça
Seis anos de geringonça não é nem foi coisa pouca e a sua morte pode ser uma notícia prematura ou exagerada.
António Costa não deixará de procurar vias de entendimento para uma segunda versão da geringonça, agora muito provavelmente sem o Bloco de Esquerda, mas não esquecendo o PAN, os Verdes e outras pontas soltas que se puderem arregimentar.
O espaço político da Direita está e estará ainda mais fragmentado e é expectável que o Chega passe a ter um grupo de deputados na Assembleia, quiçá imprescindível para a formação de uma maioria dita não-socialista que assegure ao presidente da república a estabilidade parlamentar que este exigirá para dar posse a um governo chefiado por Rio ou Rangel.
Mas como a direita bem-pensante parece ter nojo dos portugueses que votam no partido de Ventura, o arranjo de forças à Direita ficará extremamente dificil de conseguir.
Com o grau de dependência de subsídios a que grande parte do país já se habituou, com a União Europeia a continuar a disponibilizar bazucas ilusórias de crescimento económico e uma sociedade sem vergonha de viver uma vida à custa de dívida cuja conta deixará às gerações futuras para pagar, se Rui Rio ou Paulo Rangel não passarem a ter um discurso e acção política na defesa de grandes cortes na despesa pública e na redução drástica do âmbito de actuação do Estado, mesmo que a Direita venha a formar governo, não haverá propriamente um novo ciclo político.
Acresce que se o PSD continuar a embarcar na agenda e tralha do discurso sobre o combate às alterações climáticas e quejandos, aí é que nem nos próximos 20 anos começaremos a regressar a um caminho de país decente.
Muito bem escrito!
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Curto, directo e totalmente certo.
Só não sei se concordo com a parte final “a regressar a um caminho de país decente”, visto que a última vez que o fomos já vai para quase 50 anos, ou seja, a grande maioria da nossa população ou ainda não era nascida ou já nem se lembra – e esse é precisamente a origem do problema.
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Pois, a estratégia para enganar tolos acabou por mais uma vez revelar que o PCP não apoia, mas talvez apoie. Sim, não…talvez.
Se forem a eleições, acaba-se a pouca vergonha de o André só ter um minuto para falar e vai haver um grupo parlamentar do Chega.
Só dores de cabeça para o sr Jeróimo e todas as tribos de esquerda, incluindo a do sr Rui Riacho..
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a geringonça está em coma induzido
dizia-se de certas barbas « tentativa frustrada de virilidade»
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Esse é um dos aspectos interessantes sobre o Chega – aqueles que nesse partido se fazem representar na AR nunca contam no discurso. É como se fossem uma espécie de povo maldito, ou lobotomizados sequestrados pelo André Ventura que não conseguem ver a luz orientadora oficial. Provavelmente até são as mesmas pessoas que antes votavam noutros partidos. Já foi assim com a Áustria, no reinado da picareta falante.
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Nasci em 64… estava em casa com os meus Pais quando “nas conversas de família” Marcelo proferiu que o tempo das vacas gordas tinha acabado, penso que em 1973 (com a crise do petróleo)… em 1974 os meus Pais estavam em Espanha e não me apercebi de imediato da revolução… mas apercebi-me do PREC e posteriormente do 25 de Novembro… de seguida, acompanhando o meu crescimento consciencializei as intervenções do FMI, e fui crescendo sempre debaixo da sombra de um país pobre, incapaz de se governar e sempre debaixo de uma contingência que atirava connosco para os fundos da Europa (pese os milhões derretidos pela Europa, aqui, desde 1986)…
Chegamos a 2021, e constatamos aonde o país chegou com esta classe política… continuamos no fundo da Europa e aos 57 anos observo o país a não sair do fundo… triste vida, esta num espaço que não sai da da cepa torta…. e depois humilhamo-nos à espera duma bazuca … profunda tristeza
Agora… a culpa é dos políticos (incapazes, incompetentes e nepotistas) ou nossa que os elegemos (e daí temos o que merecemos?)
Deixo aqui a questão, farto do nepotismo cleptocrático que nos enforma…
São 57 anos a ouvir que estamos no fundo do pelotão… como questão, a culpa também não será nossa?
JPPCH
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Supostamente, como se recordará, os fundos serviriam como alavanca para a convergência (como acontece com países recentemente admitidos), mas na prática serviram para criar uma teia de pessoas, organizações e vícios que enreda o país. No fundo, parte do país é parasitário relativamente à Europa e às partes boas dele próprio, e qualquer tentativa de remoção do parasita não só produz anticorpos que o impedem, como acaba por enterrar o país com a cura. Por outro lado, o poder autárquico criou também uma rede de actividades, algumas delas louváveis, mas cuja sustentação parte do princípio que a Europa continuará a suprir o país com recursos por tempo indeterminado. Quando estes faltarem, o país cai como um castelo de cartas ao vento, até nas funções mais básicas, como as do saneamento, também cobertas pela Europa. Nós somos a gente que vota nisto, porque boa parte de nós está lá directa ou indirectamente metida, junto com aqueles para quem o facto de o seu líder partidário se prestar ou não a quase dar porrada num idoso não faz diferença nenhuma. Somos no fundo um país mediterrânico, convencido de que faz parte da Europa, partilhando da característica fundamental dos países daquela região, incluindo norte de África e médio oriente: não conseguem sair do buraco, nem sem ajuda e, por vezes, muito menos com ela.
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Isso é o óbvio ululante. Se algo de positivo saiu da geringonça foi deixar claro que, não havendo um partido com maioria absoluta, manda o bloco que tiver 116 deputados, quer os integrantes do bloco maioritário queiram ou não.
O PAN mostrou, para os mais distraídos que é uma “spinoff” do PS, se bem que seria muito interessante um cenário de PSD mais votado, ambos os blocos com 113 deputados e o PAN com 4. O divertimento estaria garantido.
O penúltimo parágrafo é o Telmo a fazer humor. O Rio ou o Rangel a defender (a sério) grandes cortes e privatizações é uma ideia tão desligada da realidade que provoca gargalhadas. Só o Passos muito timidamente fez isso e porque tinha a troika à perna.
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Depois do fim da GGuerra, a política do “orgulhosamente sós” e as campanhas de luta contra o comunismo em África negociadas com os EUA, fizeram com que Portugal de Salazar chegasse a 1974 atrasado 30 anos, em termos industriais, económicos e sociais, comparando com os restantes países europeus do norte.
Após o 25/04/1974, Portugal transformou.se num território, com 10 milhões de consumidores, apetecido pela indústria e serviços dos países do norte, que ofereceram milhões de contos reis por dia aos governos de Cavaco para mandar abater vinhas, olivais, barcos de pesca etc. em ordem a transferir para os países do norte da europa a produção que se fazia por cá. Depois mandaram milhões de contos de reis para fazer autoestradas que possibilitaram o transporte rápido da produção do norte da europa para Portugal.
E para rentabilizar os negócios das empresas do Norte, mandaram mais milhões de contos de reis e milhões de euros para modernizar Portugal em termos de comunicações, que são imprescindíveis à boa produtividade da economia.
Porém, estes últimos milhões já não foram a fundo perdido, mas sim como empréstimos, pois a economia portuguesa nunca gerou excedentes capazes de, em poucos anos, recuperar o atraso dos 30 que Salazar nos legou.
A Dívida do país passou então a ser o garrote adequado a impedir que a convergência se processasse. Foi um esquema bem pensado, não foi por acaso.
Um extraterrestre que viesse a este sítio ler o que aqui se diz, ia julgar que em Portugal ainda havia só duas marcas de leite (Ucal e Vigor), que as donas de casa ainda se abasteciam todas nas mercearias de bairro, que os operários ainda iam de bicicleta a pedal para as fábricas, etc.
Nada disso, senhores extraterrestres!, vão aos hipermercados e olhem para os carrinhos de compras de quem se abastece lá, vejam que mesmo os operários e camponeses vão de cuzinho tremido às compras, e não trazem para casa, no seu automóvel, só arroz e batatas. Trazem iogurtes, coca-cola, agua mineral, bifes do acém, fraldes descartáveis e brinquedos para as crianças. Tudo isto se pode ver de Bragança a Portimão.
Não se deixem enganar, senhores extraterrestres!
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