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EFACEC: um morto-vivo pago pelos Portugueses

2 Novembro, 2022

Os socialistas andaram anos a bajular a oligarquia angolana e a seduzi-los a serem accionistas da EFACEC tendo feito tudo para facilitar a entrada de Isabel dos Santos no capital desta empresa portuguesa. Entretanto os ventos políticos e da opinião pública mudaram e, com a mesma desfaçatez, os socialistas passaram a considerar o capital angolano um activo tóxico.

Vai daí que o governo de António Costa resolveu nacionalizar a EFACEC ficando com a quota de mais de 70% que pertencia à filha do ex-presidente de Angola. Siza Vieira, que à altura era o ministro Ronaldo da Economia, engendrou uma operação absolutamente magnífica e cheia de virtudes, vista aliás pelo presidente da República como um imperativo nacional. (ver vídeo aos 1m00s)

Os mais reputados e esclarecidos comentadores e analistas da nossa praça consideravam a empresa fantástica e a decisão do governo excelente (ver vídeo aos 2m03s)

A generalidade dos partidos políticos ou aplaudiram a opção do governo ou, através do seu silêncio, concordaram tacitamente com a nacionalização. Com a excepção, reconheça-se, do ex-líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos.

Mas na verdade, à boa maneira socialista, o que o governo fez foi utilizar o dinheiro dos contribuintes para nacionalizar a EFACEC escondendo a situação económico-financeira calamitosa da empresa ao mesmo tempo que manteve em funções a equipa de gestão que conduziu a resultados desastrosos.

Há mais de dois anos que a empresa é um sorvedor de dinheiro dos portugueses, com injecções de capital por parte do Estado, garantias públicas e mais endividamento. Em 2021, a EFACEC teve um prejuízo consolidado de 184 milhões de euros e uma dívida líquida de 193 milhões de euros. Este ano a empresa já agravou o buraco.

Ao contrário da narrativa com que quiseram enganar os portugueses, a EFACEC revela-se uma empresa inviável. Mas o governo socialista não tem pudor em torrar dinheiro dos contribuintes numa empresa zombie, falida, mal gerida e sem mercado.

Entretanto o actual ministro da economia, o pseudo-poeta Prof. Lero-Lero, já se comprometeu a resolver o imbróglio criado pelos próprios socialistas que é o mesmo que dizer que a conta será paga pelos portugueses que trabalham e que continuam a ser alvo de um saque fiscal.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Outra vez arroz, Maria João?

1 Novembro, 2022

Não leio o que a Maria João Marques escreve desde que virou um camaleão político e feminista radical. Não tenho paciência. Mas às vezes tropeço em pérolas que não consigo ignorar pelas baboseiras grotescas que os ditos artigos contêm. É o caso deste que merece resposta à letra dirigido à autora:

Minha cara senhorita, começo por dizer que, se não sabe o que é ser de direita conservadora, poupe-se ao ridículo e remeta-se ao silêncio até aprender. A direita conservadora é formada por gente que defende os princípios e valores transmitidos pelos nossos pais e avós no trabalho, no respeito pela família e pelo próximo – independentemente da sua cor, religião ou etnia – e que fizeram desta sociedade aquilo que ela foi, até chegarem as “marias joãos” defensoras da parasitagem e revisionismo histórico e cultural . Caso não saiba, foram essas gerações que construíram o mundo que tínhamos antes do início da sua destruição pelo “wokismo” e que hoje a senhorita representa.

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E o PÚBLICO escolheu ser um folheto

31 Outubro, 2022

Eles é que são os presidentes da junta Liberal

26 Outubro, 2022

O deputado Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, é conhecido pelo seu apurado sentido de humor. Esta semana protagonizou um notável número de stand-up-comedy que continua em palco para os apreciadores do género.

A leitura política que se faz da saída de Cotrim de Figueiredo da liderança da IL, do imediato anúncio da candidatura de Rui Rocha, seguido do apoio público formal a Rui Rocha por parte de Cotrim de Figueiredo é a de que os dois políticos estavam e estão mancomunados e trabalharam nos bastidores à sucapa de toda a gente um arranjinho, uma maquinação de passagem de poder no partido entre amigos.

Rui Rocha apresenta-se como um futuro líder forte para disputar eleições no país, mas ao promover um cambalacho ardiloso para chegar a presidente da Iniciativa Liberal demonstrou a sua fraqueza e receio de concorrência. Assumir esta contradição é inegavelmente uma boa piada de Rui Rocha.

A tramoia entre Cotrim e Rocha torna evidente que um pequeníssimo número de pessoas na cúpula da IL se considera dono do partido, sentindo-se legitimado na tentativa de criação de um protectorado para um futuro presidente da Iniciativa Liberal em desrespeito por outros potenciais candidatos à liderança, mas sobretudo por passar um atestado de menoridade e desconfiança à generalidade dos militantes, vistos como incapazes de fazerem escolhas políticas internas acertadas. O apurado sentido de humor de Rui Rocha ficará por isso sublinhado quando vier criticar a falta de democraticidade do Bloco de Esquerda, ao mesmo tempo que na Iniciativa Liberal usa métodos estalinistas-leninistas na luta pelo poder.

O deputado da IL apresentou-se de forma supersónica como candidato ao lugar de Cotrim de Figueiredo, sem sequer ter apresentado previamente uma moção estratégica ou um programa de candidatura. Será por isso também uma gargalhada geral quando Rui Rocha acusar André Ventura de ser um arrivista de ego exacerbado, ou depreciar o Chega como um partido sem ideias e oportunista.

Intrigas palacianas com intenção de condicionar a escolha livre dos militantes para um novo líder, assim como orientar as manifestações de apoio de simpatizantes na direcção conveniente a quem sai e quer continuar a tutelar o partido é uma novela pouco aprazível a liberais.

Os ingénuos chegam agora à conclusão de que um partido liberal é, na sua essência, igual a todos os outros partidos.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

O medo

24 Outubro, 2022

Revisionismos históricos

19 Outubro, 2022

Cada vez mais pessoas despertam e se apercebem das intrujices propagandeadas a pretexto da covid19 que resultaram na calamidade do excesso de mortalidade, em vidas suspensas e num retrocesso sem paralelo das mais elementares e básicas liberdades das pessoas.

Alguns reconhecem hoje em privado que claudicaram ao medo e foram envolvidos numa vertigem alucinante de desumanidade e egoísmo. Os poucos que pediram desculpa por essa fraqueza é gente de carácter que vale a pena acolher de novo em proximidade.

Porém os dirigentes e personalidades com mais influência que manipularam a sociedade para um execrável caminho de segregação, com condicionamento psicológico e controlo comportamental, esses autoproclamados “agentes de saúde pública” estão hoje ocupados a fazer um revisionismo da história do maior e mais despudorado atentado das últimas décadas feito ao método científico, ao pensamento crítico e à liberdade.

Quais ratazanas infames e cobardes, sem remorsos de consciência procuram disfarçar a pulhice e imoralidade das suas políticas. Uma das maiores mentiras à boleia da qual se cometeram barbaridades foi a da “pandemia de não-vacinados”. Para que não se diga que tal conceito nunca foi invocado, trago aqui um registo histórico datado de Novembro de 2021 de um dos nossos mais sinistros e populares comentadores: ver vídeo abaixo aos 2m02s.

Desonestidades intelectuais deste género e patifarias ignóbeis deste calibre não merecem perdão popular. A quem se quiser manter inimputável e exonerar-se do desastre social que ajudou a promover só lhes restará a indulgência divina.

a minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Espantoso! Costa, tem razão.

12 Outubro, 2022

Há uma crítica unânime e transversal da Oposição à proposta de Orçamento de Estado que é a de que, ao contrário do que António Costa quer fazer crer, o Orçamento de Estado proposto pelo governo e apoiado pelo PS é um orçamento de austeridade.

Para o PCP e o Bloco, já se sabe, tudo o que não seja gastar a tripa forra com o dinheiro dos outros é um espartilho do progresso. Já espantoso é o facto de a nossa direitazinha, não lidar maravilhosamente com o conceito de austeridade. Esta direitazinha disfarça até muito mal o facto de, no fundo, entender a “austeridade” como algo condenável e censurável.

Ora, creio ser insuspeito de qualquer complacência, afinidade ou até respeito político por António Costa, mas neste caso não posso deixar de concordar com o primeiro-ministro: o Orçamento de Estado não é de austeridade.

Austeridade é a qualidade ou característica do que é rigoroso. É uma política de redução de gastos e de diminuição da despesa pública. Austeridade implica princípios sérios, exigentes e sóbrios na gestão do dinheiro que o Estado retirou coercivamente aos portugueses ou pediu emprestado a quem poupou.

Que fique bem claro: austeridade não é aumentar impostos, nem aumentar o montante da cobrança fiscal. Austeridade é, tão só, reduzir despesa pública. Austeridade é diminuir o Estado. Lamentavelmente, nada disto se prevê no Orçamento de Estado socialista e, por isso, António Costa tem razão: não é austeridade.

O orçamento de Estado serve para tirar à força riqueza a uns para dar a outros. O Orçamento distribui benesses por grupos de interesses e dessa forma compra apoios políticos junto do eleitorado.

Um euro de despesa pública é um euro a menos nas famílias portuguesas. A austeridade é a forma de resgatar a autonomia das famílias e colocar na órbita das escolhas e preferências das pessoas e não do Estado o uso dos recursos de que cada um dispõe e da riqueza que criou com o seu trabalho. A austeridade é a forma de responsabilizar cada um pelas suas opções, tratando os portugueses como seres adultos.

Os orçamentos de estado são a ficção de construir um mundo novo igualitário, mas que resulta, invariavelmente, em que a grande maioria de nós fique mais pobre.

A austeridade é, pois, a única via para o crescimento futuro. E não será nunca o PS a ter juízo para arrumar a casa e nos colocar numa rota de desenvolvimento.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Uma valente confusão sem grande interesse que nem me apeteceu estruturar

7 Outubro, 2022

Das Bedenklichste in unserer bedenklichen Zeit ist, dass wir noch nicht denken1.
— Martin Heidegger (1889–1976)

Os blogs estão mortos, tal como está Deus. Não há nada inerentemente mau neste princípio, só dele decorre o terror da responsabilidade individual. Durante a massa da história registada, Deus serviu o propósito de enquadramento das acções humanas. O Bem e o Mal, portanto, mesmo quando a divisória que os acantona acaba escondida pela espuma das marés dos tempos. Deus morreu quando deixou de exercer influência na definição do certo e do errado — independentemente das pessoas com fé que aderem a diferentes igrejas, é nas sociedades seculares que encontram a bússola comportamental do seu Bem e Mal. Em suma, os comportamentos são moldados por medo de condenação a pena de prisão e não por condenação à danação eterna.

Os blogs, durante algum tempo, criaram um “nós”, uma sensação de comunidade, mas essa comunidade só foi possível de sustentar através do princípio da materialização. Não há rede social ou qualquer outro formato digital que permita a manutenção de comunidade através da separação física que um ecrã proporciona. Sem a corporização das pessoas no mesmo espaço físico, enquanto pode subsistir alguma forma de comunicação, perde-se a comunidade. Os blogs morreram quando deixamos de fazer jantares. É mesmo tão simples como isso.

Comunicamos com palavras, uma ferramenta da oralidade. Diferentes línguas têm diferentes ritmos, diferentes sons, gerando diferentes musicalidades auditivas. Não existe uma relação unívoca entre uma língua e outra. Não admira que se discuta animada e apaixonadamente sobre qual das traduções de Dostoevsky melhor consegue a aproximação ao texto original.

Quando digo que os blogs estão mortos, não me refiro necessariamente ao que entendemos por blog e sim, de uma forma abrangente, a qualquer das ferramentas digitais de expressão escrita ou audiovisual à distância. Inclui tudo, seja Twitter, Facebook ou qualquer outra coisa. Isto porque não há materialização corpórea dos intervenientes. Sem as pessoas se conhecerem, sem estarem na presença uns dos outros, a comunicação torna-se fraccionada, parcial, um aglomerado de palavras sem emissão directa do ser que as profere. Uma abstracção.

Não foi por passarem a existir versões impressas acessíveis da Bíblia que se dispensou o sermão. Não é por passar a eucaristia dominical na televisão que se pode dispensar a missa presencial. “A mensagem é o meio” (McLuhan), logo a mensagem da eucaristia é a própria comunidade que se agrega na igreja. O conteúdo é o próprio evento.

No mundo digital não há eventos. Nem sequer há artigos de jornal: a mensagem é o ecrã. Artigos de jornal existiam quando a mensagem era o papel, o acto de o dobrar e de o transportar debaixo do braço, um acessório de identificação do indivíduo.

(Em The White Lotus, uma mini-série HBO, a certa altura as duas adolescentes que se apresentam como existindo sem porém viverem – uma contradição muito milenial – ironizam com o bronco sobre terem um consultor de moda para os livros que devem usar na berma da piscina).

Por isso, agora somos todos existencialistas em declarada má fé. O inferno são as outras pessoas. A democracia nem sequer existe além de um artifício ficcional (quem elegeu a Ursula von der Leyen?). Somos governados por ecrãs, por figuras ausentes, desconhecidas, que estabeleceram uma comunidade real, presencial, estabelecida por apatia da des-comunidade global, mas que se encontram fisicamente para delinear o Bem e o Mal e a consequente salvação ou danação dos súbitos, obrigados a aceitar os preceitos burocrato-divinos estabelecidos. A alternativa do inferno deixou de ser uma perspectiva tão negra como antes era.

Podemos simular uma discussão acerca dos BMW da TAP, mas tal seria irrelevante. Seriam bits e bytes dignos da Les Assassins des Fauteuils Rollents2 que comporiam parte do “the Entertainment” (Infinite Jest, David Foster Wallace) e que apenas serviriam para perpetuar a má fé de Sartre, a nossa incapacidade de assumir responsabilidade pela decisão individual de optar pelo entretenimento light perante quer a ameaça de fome extrema imposta pela neo-religião de combate ao carbono, quer a ameaça de de devastação nuclear.

Assim, perante o Geworfenheit3 (Heidegger) que o mundo me apresenta, escapando a viver em má fé, resta-me assumir a responsabilidade pelas minhas acções, sendo que estas poderão ser melhor descritas pelo filosofo americano Paul Simon:

Hello darkness, my old friend
I’ve come to talk with you again
Because a vision softly creeping
Left its seeds while I was sleeping
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence


1 Tradução mais ou menos aceitável: o maior pensamento crítico neste tempo crítico que vivemos é que nós não pensamos.

2 Seria algo como “os assassinos das cadeiras de rodas”, mas o uso de rollent em vez de roulant intui para um trocadilho com “laissez les bon temps roulez” ou “deixar os bons tempos rolarem”.

3 Conceito usado por Heidegger para descrever a condição humana de ser “atirado para o mundo”, ou seja, de não existir escolha humana para o local ou a família em que um indivíduo nasce.

4Olá escuridão, minha velha amiga / Encontramo-nos novamente / Por uma visão lentamente introduzida / Deixar semente enquanto dormia / E essa visão plantada na minha mente / Subsiste / Por entre o som do silêncio.

O caso Pizarro é bizarro

5 Outubro, 2022

O caso Pizarro é bizarro. Um ministro pode ao mesmo tempo ser sócio de uma empresa? Pode. Não pode é ser gerente dessa sociedade. É o que diz claramente a lei através do “Regime de funções por titulares de cargos políticos”. Portanto, em 9 de setembro passado, dia em que tomou posse como ministro da Saúde, Manuel Pizarro já não poderia ser gerente da sua empresa.

Se Manuel Pizarro quisesse ter cumprido a Lei, teria bastado apresentar a renúncia à gerência da empresa, comunicação essa quem nem depende de registo e que se torna efectica em apenas oito dias.

O bizarro no caso Pizarro é que o homem admite que se encontra em flagrante incompatibilidade, ou seja, foi nomeado para as funções de ministro num quadro de patente ilegalidade, mas de forma ostensiva e arrogante torna pública a sua vontade de praticar actos contrários à Lei.

Lembro que aquando da demissão de Marta Temido, António Costa disse que não havia urgência especial em substituir a ministra e por isso Pizarro teria mais do que tempo para simplesmente comunicar a sua saída dos órgãos sociais da empresa e entregar a gerência ao seu sócio ou a uma terceira pessoa. Optou conscientemente por não o fazer.

Recordo ainda quem em 2017, o ex-ministro Pedro Siza Vieira também acumulou o cargo, durante alguns meses, com o de gerente de uma empresa que detinha com a mulher. Mas ao contrário de Pizarro, na altura, Siza Vieira disse não ter consciência de que não poderia ser gerente. Acabou por se safar a ser compulsivamente demitido pelo Tribunal Administrativo, porque, entretanto, António Costa fez uma remodelação governamental e uma troca cosmética de pasta para o seu amigo Pedro, passando Siza de ministro-Adjunto para ministro-Adjunto e da Economia. Siza Vieira aproveitou-se desta “troca” e solicitou oito dias depois o arquivamento do processo.

Dantes, a baixíssima condição moral, o vazio ético e a ausência de dignidade da rede de políticos em torno de António Costa levavam a maralha socialista a fintar conflitos de interesses, incompatibilidades, nepotismo, favorecimentos, truques, fintas e malabarismos indecentes invocando de forma desavergonhada que tais práticas estavam dentro da Lei. Agora já nem isso. Mesmo que seja ilegal, quem está no poder sente-se inteiramente merecedora de regimes de excepção e privilégios.

Os idiotas inúteis do costume já vieram dizer que o caso Pizarro é menor, e que se trata de minudências sem relevância para o país, acusando os críticos de populistas e demagogos.

Mas com isto institucionaliza-se verdadeiramente uma sociedade de castas: de um lado a oligarquia e os legisladores e, do outro, o povo.

A rebaldaria e o atrevimento desta gente e em particular, agora, de Manuel Pizarro é tão grande que pela força das circunstâncias impostas pelos donos disto tudo, há que reconhecer que estamos entregues a bichos.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Foi em Setembro que te conheci

29 Setembro, 2022

Estou muito contente com o 8º anúncio da ligação em TGV entre Porto e Lisboa. Já tinha ficado muito contente com o 7º anúncio, até mais de que com o 5º anúncio, e agora este 8º teve tanto impacto positivo no meu empoderamento como pessoa como teve o 1º. Estou certo que ainda vou vibrar mais no meu íntimo com o 9º anúncio.

O TGV permitirá a ligação das duas únicas cidades que interessam no país em 75 minutos, uma melhoria significativa em relação aos 170 minutos de agora. Na realidade, uma melhoria de exactamente 95 minutos. Se agora a ligação custa 37,35€, portanto 21,97 cêntimos por minuto, decerto que custará em alta velocidade algo como 16,47€. Se um indivíduo num carro a gasóleo poluente dos que gasta 7 litros a cada 100 km tiver a indecente ideia de se deslocar por uma das duas (ainda esperamos a terceira, que há-de vir, pelo menos em anúncio) autoestradas completamente fundamentais (à altura, agora já não são ecologicamente desejadas) para o desenvolvimento económico do universo lusitano, com portagens, acabaria a gastar 22,40 em portagem e 22 litros de gasóleo, o que, de acordo aqui com a bomba do local em que vivo, seriam só 1,834€/litro, ou seja 40€. Por 62,40€ um comum poluidor burguês chega a Lisboa quando poderia usar o baratíssimo e hipster comboio por apenas 37,35€. Claro, há a hipótese do poluidor ser um membro de um casal com filhos e aí o carro continuaria a custar 62,40€ face aos 74,70€ do comboio lento (e supondo que os filhos não pagam, o que pode até acontecer se, por exemplo, ficarem em casa enquanto os pais vão ver as luzes de Natal à grande metropole). Quando o comboio custar 16,47€, não só a viagem será muito mais rápida como até os filhos poderão ir ver os deputados da nação e ainda outras atracções do jardim zoológico.

Por isso mesmo estou entusiasmado e vejo com excelentes olhos as medidas de poupança de energia a bem do nosso planeta. Vale bem a pena passar um bocado de frio ou uma pequena amputação por esta causa. Vale bem a pena desligar a iluminação pública na hora mais propícia a violações, até porque é necessário assegurar a privacidade dos envolvidos e a não discriminação dos trans. Vale bem a pena construir-se mais uma ponte sobre o Douro para assegurar que a viagem demora 75 e não 76 minutos. Vale bem a pena passar um bocado de fome ou escorbuto para cumprir com o desígnio mundial de lutarmos todos pela paz e pela democracia até ao último ucraniano.

Em último lugar, quero agradecer pessoalmente ao governo pelos 125 euros. Tenho a certeza que todos os portugueses poderão viver uma vida mais folgada com este incentivo à felicidade e subsistência do planeta. Espero que a devastação nuclear ocorra só depois de os podermos usar numa festa de arromba.

Guterres, profeta do apocalipse

28 Setembro, 2022

António Guterres é um político que deslustra Portugal. O homem é, como se sabe, politicamente pantanoso que tenta disfarçar a sua falta de decisão e deserto de ideias com discursos palavrosos, redondos, de pura baboseira. Neste aspecto Guterres é em tudo igual ao seu amigo Marcelo Rebelo de Sousa, o nosso infantil e narcisista presidente da república. Com uma diferença: enquanto ninguém fora do nosso país tem de gramar as atitudes e comentários atolambados de “Narciso” Rebelo de Sousa, sendo secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, expõe internacionalmente o circo de personalidades que brotam em Portugal.

Após tantos anos em Nova Iorque, Guterres poderia pelo menos minimizar o nosso embaraço de o ver discursar na ONU tendo aulas de pronúncia de Inglês, mas o bonacheirão nem a isso se dá ao trabalho. Pior: o seu sotaque ridículo e confrangedor também se nota em Espanhol (ver vídeo que acompanha este post)

Para além disso, o bondoso e alegre Guterres que conhecíamos deu lugar a um dos mais alarmistas profetas do fim do mundo, e ao contrário do que se esperaria nas suas actuais funções, está exclusivamente dedicado a espalhar ansiedade e promover o medo na sociedade.

No vídeo cujo link se deixa abaixo vemo-lo falar em “mares perigosos”, “inverno de descontentamento”, de um “planeta a arder” e de uma “crise que ameaça a humanidade” e coloca em causa a sobrevivência do nosso planeta. Depois repete que o “planeta está a arder” e dá conta da inutilidade da ONU e do seu trabalho porquanto considera que as convulsões sociais são “inevitáveis” e que um conflito (presume-se uma guerra) está próxima. Guterres assusta o mundo dizendo que vivemos “uma guerra suicida contra a Natureza” e, catastrofista, que a humanidade enfrentará um desastre climático. Depois o ex-chefe dos socialistas nascido no Fundão transforma-se em meteorologista encartado e diz que desde a Idade Média as temperaturas nunca estiveram tão altas. Como se não bastasse o deboche cómico desta afirmação, previne e sobressalta os povos para a sua terrível constatação de que “ainda não vimos nada”…

Com asneiras deste calibre é provável que os estrangeiros sejam levados a crer que os portugueses são uma cambada de pírulas dados a achaques apocalípticos. E não estão errados.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

A pimbalhada das TVs nacionais

21 Setembro, 2022

No ambiente cultural progressista e ateísta que vivemos, não deixa de ser curioso que na última dúzia de dias a propósito da morte da Rainha Isabel II, bateram-se records de audiências com cerimónias religiosas, múltiplas manifestações de fé, inúmeros discursos com dimensão espiritual e simbólica, exibições de cânticos e música sacra ou expressões diversas de crença na vida para além da morte.

Porém, os canais de televisão portugueses puseram mais uma vez em evidência a péssima qualidade do jornalismo nacional e triste e trágica deplorável vertigem dos nossos media para tudo nivelar por baixo até à mais rasteira pimbalhada.

O pequeno exemplo de como as televisões cobriram a derradeira, mais intimista e pungente cerimónia em Windsor do baixar do caixão da Rainha para a cripta da igreja acompanhado do lamento em gaita de foles tocado pelo Gaiteiro real, basta para ilustrar a cretinice e a selvajaria das transmissões em directo da RTP, da SIC ou da CNN. (ver vídeo a partir do 1m23s)

Clara de Sousa sobrepôs a este momento marcante observações idiotas sobre carros-vassoura e lixeiros, o pivô da CNN Portugal põe uma insignificante especialista em protocolo a falar por cima da despedida musical e António Esteves chama um especialista para dizer o que era auto-evidência pelas imagens.

A solenidade e dignidade do momento poderia e deveria ter sido respeitada com o silêncio absoluto dos jornalistas, tal como assim fez a SkyNews. (ver vídeo a partir do 3m06s)

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Isabel II

14 Setembro, 2022

Os muitos e justos tributos, homenagens e cerimónias evocativas de Isabel II têm sido uma boa ocasião para recordar o espírito de serviço, dignidade e inteligência com que durante 70 anos a Rainha manteve não só funções de chefe de estado como assumiu com humildade, seriedade e honra o peso de representação dos povos do Reino Unido e da sua história. Tornou-se um símbolo, um elo de continuidade e um referencial de exigência na modernização das respectivas nações.

Quem se atreva a comparar a sorte dos britânicos com a realidade da hierarquia política em Portugal não pode deixar de sentir tristeza pelo imenso abismo moral, de gravitas e até de bom gosto existente entre Isabel II e a generalidade dos matarruanos que têm ocupado os mais altos cargos no nosso país.

Em 2022 é repulsivo o contraste com um presidente da república que troca de cuecas em directo na televisão. O constante comportamento de criancinha mimada e traquinas de Marcelo, sempre ansioso de ser amado por todos, opõe-se de forma marcante à forma natural e genuína com que o povo britânico admirava e se sentia próximo da sua reservada e contida monarca.

A forma mal-arranjada, sobranceira e quase boçal das intervenções públicas de António Costa ou a altivez e insinuações maliciosas de Augusto Santos Silva são também uma colossal diferença para a educação, serenidade e galhardia de qualquer comentário de Isabel II.

Apesar da sua incontinência verbal e da sua condição de picareta falante da república, Marcelo Rebelo de Sousa nunca disse algo de substancial, rigoroso nem sequer acertado. Ao invés disso, a moderação, cautela e até o silêncio da Rainha sempre foram fundamentais e sábios.

Os portugueses parecem contentes com o estilo histriónico, frívolo e vácuo dos nossos políticos. O luto silencioso a que assistimos no Reino Unido por estes dias está reservado apenas a povos que se dão ao respeito.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Empacotados

7 Setembro, 2022

O PSD e a Iniciativa Liberal são tão pascácios que, mais uma vez, caíram como miudinhas das escolas secundárias nos jogos de sedução e engano do velho político António Costa. PSD e IL – partidos da esquerda moderada – comentaram a apresentação do embrulho de medidas do governo a pretexto da inflação com conversas parvas típicas de adolescentes com dor de cotovelo por o PS ter aproveitado ideias que a oposição já antes tinha sugerido.

E assim, a reacção inicial do PSD e da Iniciativa Liberal foi a de o pacote já vir tarde. Não há uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão e, por isso, a imagem que colou aos discursos destes partidos foi a do atraso das medidas.

Costa, experiente e hábil na manipulação, nem sequer precisou de responder aos ingénuos opositores para colher os louros de ser visto pela generalidade da opinião pública como sendo um primeiro-ministro que, pelo menos, está a tentar «fazer algo» contra a inflação. E, como diz o povo: “Mais vale tarde do que nunca”.

Pior ainda: o PSD e Iniciativa Liberal ajudaram também a caucionar e consolidar a tremenda falsidade de que a inflação é uma variável externa e alheia à responsabilidade do governo. Esta gente é tão inábil e politicamente tão incompetente que é triste que a maior e mais descarada mentira que António Costa disse na sua comunicação ao país de segunda-feira passada tenha passado incólume e sem que a oposição tenha desmascarado a torpe patranha: «Consequência da pandemia e, sobretudo, da guerra da Rússia contra a Ucrânia, temos vindo a sofrer um brutal aumento da inflação.» (ver vídeo aos 2m00s)

O aumento dos preços é consequência direta das políticas monetárias expansionistas aclamadas pelos políticos, com injecções sucessivas de liquidez no mercado e manutenção de taxas de juro artificialmente baixas. Por outro lado, como desde bem cedo em 2020 se tem vindo a alertar nestas crónicas, a inflação resulta também das prácticas criminosas dos governos com o fecho de actividades económicas, confinamentos e restrições a pretexto da alucinação colectiva com a covid19. Assim como o aumento da dívida pública e a distribuição de dinheiro através de bazucas só serviram para aumentar os danos económicos infligidos à generalidade dos portugueses.

Em vez de irem para o recreio brincar com o PS, teria bastado ao PSD e à Iniciativa Liberal dizer aos Portugueses que para compensar a perda de rendimento das pessoas provocada por políticas públicas desastrosas e erros do governo, seria bem melhor baixar a taxa de IRS com efeitos imediatos nas retenções na fonte em vez da fantochada de remendos contraproducentes que António Costa propôs.

O governo de António Costa não está a dar nenhum apoio aos Portugueses. Quando muito estaria a repor e a devolver parte do produto de um roubo via impostos. Mas nem isso. É apenas um embuste que procura resolver o problema da inflação com mais das suas causas.

O socialismo gera inflação. E o governo quer mais socialismo.

Um lindo serviço…

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Adeus, Marta

31 Agosto, 2022

A continuação de Marta Temido no governo era perfeitamente sustentável e até previsível. Ao contrário do que ouço muitos comentadores e responsáveis partidários dizerem, a irresponsável pela pasta da saúde tinha todas as condições políticas para continuar no governo. Desde que António Costa assim quisesse.

Temido não era sequer uma ajudante do primeiro-ministro, mas apenas uma mera submissa bajuladora de António Costa que cumpria acriticamente, mas de forma atabalhoada, as ordens do seu chefe em relação às políticas a adoptar. Ou seja: enquanto não sucumbisse a um destrambelhamento incontrolável, serviria perfeitamente o propósito de António Costa de a utilizar como saco de pancada e escudo político.

Os sevandijas socialistas protegem tanto António Costa que um dos seus mais hábeis capachos políticos é destacado para, sem qualquer vergonha na cara, fazer declarações mendazes como esta (ver vídeo ao 1m13s).

Se há situação que colocou em evidência as erradas, prejudiciais e lesivas políticas deste governo para a saúde dos portugueses foi a histeria e hipnose colectivas com a covid19.

O caos e ruína em que o PS tem deixado o serviço nacional de saúde não preocupa António Costa desde que se consiga desresponsabilizar do sucedido. Tal como aquando dos incêndios de Pedrógão, António Costa também se está a marimbar politicamente para a morte de Portugueses à conta da incúria e falhas do Estado. Uma linha vermelha que ele admite para outros, mas não para ele próprio. Ora veja aqui (ver vídeo ao 2m50s).

O governo socialista foi eleito com maioria absoluta, a oposição continua entretida com o seu umbigo e o presidente da república é um cúmplice obediente a António Costa.

Desejo por isso a todos os seguidores deste blog boa sorte e que Deus nos proteja.

Cabotinas bojardas

24 Agosto, 2022

António Costa está de férias. E ainda bem porque quanto mais afastado estiver do governo menos decisões toma que possam afectar as nossas vidas.

Com o país a assistir ao desaparecimento da Serra da Estrela com os incêndios florestais, o primeiro-ministro deixou em funções em Lisboa o seu capacho político – Marcelo Rebelo de Sousa – a servir de manipulador dos órgãos de comunicação social. E Costa colocou a lacaia socialista Mariana Vieira da Silva como comandante-em-chefe dos patuscos ministros do seu governo.

Esta serventuária dos reles desmandos de Costa presta-se, alegremente e sem vergonha na cara, às mais cabotinas bojardas, como esta (ver vídeo aos 51s).

Segundo a filha do ex-ministro de José Sócrates, não há, portanto, nenhuma responsabilidade do executivo nem dos socialistas por, ao longo de dezenas de anos no governo, terem adoptado políticas de incúria e desincentivo a uma boa gestão dos espaços florestais. O imperador Nero mandou atear um incêndio à cidade de Roma para se inspirar poeticamente e enquanto o fogo consumia a cidade, contemplava o cenário tocando a sua lira. Nos dias de hoje parece que Mariana e o governo de Costa encontram virtude na devastação da Serra da Estrela para que os socialistas possam desenhar a régua e esquadro um plano que torne o Parque Natural melhor do que aquele que conhecíamos.

A intrujice é ainda mais nauseabunda porquanto a primeiro-ministro em exercício tem ainda o desplante de ensaiar a desculpa das “alterações climáticas” (ver vídeo aos 2m29s).

Alguém perguntava se, caso o governo se incendiasse, também ficaríamos melhor do que antes. Mas logo um céptico desmancha-prazeres respondeu que muito provavelmente, com quase 50 anos de regime, o sistema já está suficientemente depurado para garantir que os que chegam ao topo são os piores.

Dificilmente algum outro governo excederá o de António Costa em maldade, podridão e perversão.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Contemplações de Verão

19 Agosto, 2022

Colégios. Aqueles estabelecimentos de ensino que, em Portugal, oscilam entre ensinar os princípios básicos da bulimia para um futuro suicídio limpo e o mérito de efectivamente saírem alunos do ensino básico a saber ler (mas não interpretar) o livro de instruções do Tesla.

Nesta época do ano, uns orgulham-se de continuar a achar que compram instrução para os filhos enquanto outros lamentam que o dinheiro que o estado come em impostos aos primeiros não permita a contratação de gente que realmente sabe ler para os estabelecimentos de candeeiros Siza e restos de mármores da pedreira de um conhecido qualquer do Medina da altura.

É a escolha entre o analfabetismo de um tipo para o analfabetismo de outro. Um sai muito mais caro (o do estado), o outro muito mais barato, ainda que assim não pareça olhando para as mensalidades. No fim, vão todos alegremente para engenharia aeroespacial ou para o raio que os parta, mas de carrinho eléctrico, que é por causa do ambiente. Correndo como se espera, a maioria não sobreviverá a viver com o seu próprio brilhantismo e nós poderemos esperar uma reforma tranquila a seco, certos que teremos muitos funerais para frequentar enquanto não batemos nós as botas.

Sim, tenho uma certa saudade dos tempos em que os problemas dos jovens eram menores, como quando só alguns morriam por consumo de heroína. Sem romantizar muito, sim, havia o flagelo das drogas, mas certamente que também havia coisas más.

Liberdade de ofender

17 Agosto, 2022

Em 1989 o sinistro Ayatollah Khomeini do Irão anunciou ao mundo a sentença de morte para Salman Rushdie por este ter escrito um livro considerado ofensivo do Islão. O líder religioso supremo da altura mandatou qualquer fiel para a execução da pena em qualquer altura e em qualquer lugar. Assim, há dias, trinta e três anos depois, Salman Rushdie escapou por pouco à morte em consequência de um infame ataque perpetrado por um zelota islâmico.

Mas o mundo e o nosso país está hoje cheio, cheiinho de ayatollahs. Os actuais Khomeini têm Silva, Santos, Ferreira, Costa ou outro qualquer apelido. Os fundamentalistas dos nossos dias chamam-se Afonso, Benedita, Martim, Guilherme ou Carolina.

Hoje, o livro de Rushdie “Versículos Satânicos” nem sequer teria qualquer hipótese de ser publicado. Os editores têm agora por prática a auto-censura e não publicam livros que considerem ter certas palavras indizíveis nem obras que temam possam ferir sentimentos de algum sector mais sensível da sociedade.

Os órgãos de comunicação social têm medo de usar termos que não sejam politicamente-correctos. Nas universidades os professores são coagidos a adoptar um discurso que os maluquinhos activistas raciais, do feminismo, da igualdade de género ou das emergências climáticas considerem próprio.  As redes sociais estão pejadas de trupes e gangs sempre à espreita de denunciar aqueles que têm ideias desalinhadas ou que não se submetem à ideologia progressista. Apela-se à censura e tudo se classifica como discurso de ódio. Na nossa Assembleia da República os deputados aprovam leis e regulamentos travestidos de virtude, mas que na prática pretendem limitar a liberdade de expressão.

Nas relações sociais, hordas de sabujos têm a distinta lata de afirmar à boca pequena que quem usa da sua palavra livremente “provoca” ou “se põe jeito” para reacções intimidatórias ou mesmo fisicamente violentas. Os cobardes e os moluscoides aconselham em vez disso um discurso redondo e o uso de banalidades para não incomodar ou tornar desconfortável o ambiente social instalado.

Parece, portanto, que em Portugal interiorizamos de modo voluntário a lei islâmica. A fatwa, a condenação à morte por blasfémia, é apenas a última etapa e o último grau dos tabús e do «respeitinho» a que nos habituamos. Mas não estamos tão longe disso quanto se possa imaginar. Os «ayatollah khomeini» portugueses estão no caminho para terem as mãos sujas de sangue.

Mas só existe verdadeira liberdade de expressão se houver liberdade de ofender.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Formatação de Massas

12 Agosto, 2022

Para a coluna da Oficina da Liberdade no Observador, escrevi o seguinte artigo a propósito do livro de Mattias Desmet «The Psychology of Totalitarism»:


Formatação de Massas

As fontes de medo e motivos de ansiedade aproximam e unem espontaneamente as populações numa fanática defesa do que a sua racionalíssima ciência determina ser o interesse comum.

Deslumbrada com os avanços da ciência e da técnica, a civilização dos nossos dias vê-se na confortável circunstância de poder dispensar a religião e o transcendental da sua mundivisão. Considera-se que toda a realidade pode ser explicada de forma racional e lógica e o comportamento humano interpretado exclusivamente sob um prisma biológico e mecanicista. As dimensões espiritual e simbólica são entendidas como reminiscências bafientas do passado. Existe aparentemente um caminho único de progresso, de construção de um homem novo e de aperfeiçoamento máximo da sociedade. Toda a vida é tida como terrena e, por isso, os receios de um julgamento divino ou a expectativa da salvação da alma perante a morte são conceitos desvalorizados ou mesmo rejeitados.

Acredita-se que a tecnologia e o conhecimento científico são hoje de tal forma desenvolvidos que, havendo vontade e mobilização social suficiente para tal, existe capacidade para evitar a doença e o sofrimento humanos. Omnisciente e com poderes ilimitados, o homem pode controlar o meio-ambiente e precaver-se contra todas as adversidades.

Neste contexto exacerbam-se as tendências narcísicas e egoístas das pessoas que passam a ver-se como titulares de infindáveis direitos adquiridos e justos credores de tudo aquilo que a ciência possibilita.

Com Deus esquecido, o homem torna-se a medida de todas as coisas, os valores morais e as referências éticas não se encontram no dever sagrado, mas na falácia utilitarista ou na pouca virtude das celebridades, os comportamentos sociais infantilizam-se. As populações procuram uma imediata e constante aprovação e reconhecimento em vida. Não se aguardam penas no Purgatório e, por isso, existe a necessidade de regulamentar e definir em letra de lei todos os aspectos da vida, assim como o modo segundo o qual as pessoas devem interagir socialmente para participarem no mundo perfeito que idealizam. O Estado e a burocracia encarregam-se de fornecer as directrizes bem como os modelos de comportamento que os povos anseiam mimetizar, tudo numa lógica computorizada, infalível.

Mas nesta narrativa, o paraíso terreno só será alcançável se todos seguirem a ciência, as orientações das autoridades e os conselhos dos especialistas. Porém, com uma vida cada vez mais digitalizada, robotizada, automatizada; com a proliferação do teletrabalho, a comunicação à distância e o acesso a entretenimento e informação online, assistimos hoje a níveis de isolamento social, solidão e depressão cada vez mais elevados. Consequentemente grassam os sentimentos de medo e insegurança nas relações entre as pessoas e é ubíqua a falta de empatia humana. A desconfiança em relação aos outros é uma constante. Os níveis de ansiedade, frustração e alarmismo social são estratosféricos. Qualquer problema, risco ou incerteza é vista com uma ameaça existencial, uma crise turbulenta, uma grave emergência.

Paradoxalmente, são essas fontes de medo e motivos de ansiedade que aproximam e unem espontaneamente as populações numa fanática defesa do que a sua racionalíssima ciência determina ser o interesse comum. Esta espécie de dogma de fé na ciência e na sua objectividade, transforma subitamente uma sociedade atomizada e individualista numa massa colectiva homogénea radicalmente irracional, blindada por um novo vínculo social de solidariedade e missão cívica.

Estes tempos de utopia racionalista são retratados de forma desenvolvida pelo psicólogo belga Mattias Desmet no seu mais recente livro, traduzido recentemente para inglês, e cujo título na nossa língua seria “A Psicologia do Totalitarismo”. Desmet explica que vem observando e analisando há bastante tempo um crescente resvalar para uma sociedade artificial liderada por tecnocratas e uma submissão voluntária das pessoas ao colectivo, em prejuízo das suas mais elementares liberdades individuais. Mas foi o sucumbir generalizado do mundo a uma hipnose neurótica com o vírus da covid19 e a aceitação pela esmagadora maioria das populações da parafernália de ferramentas e decisões opressivas e totalitárias dos governos que o levou a escrever a referida obra.

Com referências várias a Hannah Arendt e, diria, inspirado também pelo pensamento de Aldous Huxley, constrói e explica o conceito de «formatação de massas» (mass formation) descrevendo os pressupostos, o caminho e as dinâmicas da deriva totalitária e da ascensão ao poder de uma cultura de ansiedade intolerante, de vigilância e de histeria a pretexto do terrorismo, das alterações climáticas e, claro, da covid19.

Desmet refere que a «formatação de massas» é uma degeneração do Iluminismo e “uma consequência lógica do pensamento mecanicista e na confiança da omnipotência da racionalidade humana”. O conceito é definido como uma espécie de hipnose colectiva em que as pessoas perdem a distinção entre o verdadeiro e o falso e aderem a uma “crença ideológica que justifica o engano e a manipulação e, em última análise, transgride todos os limites éticos”.

O que gera comportamentos compulsivos das massas são histórias veiculadas pelos media que indicam e maximizam um objeto de ansiedade, seja o clima, o terrorismo ou um vírus respiratório. Haverá um amplo apoio social para a implementação de uma estratégia de controlo desses objetos de ansiedade e, acrescenta o autor, que “através de uma luta comum com esse inimigo, a sociedade em desintegração recupera a sua coerência, energia e significado inicial”. Desta forma, as massas passam a aceitar até as ideias mais absurdas como verdadeiras, ou, pelo menos, a agir como se fossem verdadeiras. Desmet retira daqui que “o que se pensa não importa; o que importa é que as pessoas pensem juntas.”

Vimos isso em Portugal mais claramente desde Março de 2020 quando o argumento principal para a população cumprir o disparatado ritual das «regras sanitárias» da DGS e os desmandos das imposições do governo foi o apelo à “responsabilidade cívica” de todos. Quem se recusava a apalhaçados e contraproducentes comportamentos era acusado de «negacionista», «egoísta» ou até «assassino», qualificativos que conferiam a objectificação necessária de um inimigo contra o qual a sociedade voluntariamente se mobilizou em massa, tendo como duplo efeito gerar união numa “causa” e sinalizar uma fictícia virtude.

Mas os capítulos 7 e 8 do livro de Mattias Desmet são dos mais interessantes porquanto neles o autor desmistifica as teorias conspirativas de que um pequeno grupo de líderes programou em pormenor e de forma sádica todos os acontecimentos que vivemos nos últimos dois anos. Em simultâneo, demonstra que quem conjectura grandes orquestrações malévolas internacionalistas cai nas mesmas falácias daqueles que acriticamente seguem tudo aquilo que quem está em posição de poder determina que se faça e pense.

Tanto a perspectiva da observância cega, como a da conjuração das elites são baseadas num idêntico mal-entendido que é o de atribuírem aos líderes uma capacidade de cálculo e conhecimentos virtualmente absolutos. Mas, como diz o autor, “o totalitarismo não é sobre pessoas monstruosas, é sobre pessoas comuns que se apegam a uma lógica ou maneira de pensar mórbida e desumanizante”.

A essência do totalitarismo não é utilitária ou egoísta, nem os líderes são imbuídos de uma ganância desmedida. O dinheiro e o poder constituem apenas meios para alcançar o objetivo final de realizar a sua ficção ideológica. É este impulso ideológico que acaba também por hipnotizar os próprios dirigentes, cujo estado alucinatório de que também padecem é retroalimentado pelas massas fanáticas que dirigem.

É natural que quem observe uma multidão unida pelos mesmos pensamentos e comportamentos fique confuso perante uma situação tão esmagadora. Esse alguém procura por isso simplificar o seu quadro mental para tentar compreender a complexidade do fenómeno. Facilmente, porém, cai na armadilha lógica da conspiração, concentrando e objectificando nos membros de uma elite toda a causalidade do mal. O pensamento conspiratório acaba por cumprir a mesma função que a formatação de massas, que tudo explica por meio de um quadro de referência simples e afunilado, dando ao mundo uma aparência lógica e inteligível.

Todavia, ao contrário do que é habitual dizer-se, os líderes não comandam verdadeiramente as massas. Ao invés, actuam de forma táctica e oportunista, ajustando os seus planos àquilo que sentem ser o desejo das pessoas comuns. Desmet cita Arendt para dar força ao seu argumento, lembrando o que a filósofa alemã de origem judaica já havia dito no passado: “o líder totalitário é nada mais nada menos do que um funcionário das massas que lidera. Não é um indivíduo sedento de poder impondo uma vontade tirânica e arbitrária sobre os seus súbditos. Sendo um mero funcionário, ele pode ser substituído a qualquer momento e depende tanto das massas que encarna quanto as massas que dele dependem.”

Mas como se quebra o círculo vicioso de ideologias que tomam posse de todos e não pertencem a ninguém em particular? Desmet não apresenta soluções claras ressalvando, no entanto, que a primeira e mais importante tarefa é a de dar continuidade a um discurso de dissidência que se quer autêntico e honesto. Impõe-se também ter a consciência de que quem, ao abrigo do anonimato das massas, comete crimes e atentados contra a liberdade individual não está isento de culpa pelas suas compulsões descontroladas.

Enquanto sociedade podemos fugir das ansiedades e negar a incerteza do mundo em que vivemos. Mas desafiar a nossa ansiedade narcisista e aceitar a incerteza que nos rodeia talvez seja o primeiro passo a dar para a Liberdade.

E, quiçá, também a humildade de Max Planck nos inspire a reflectir sobre estes tempos quando afirmou: “tanto a religião como a ciência exigem uma crença em Deus. Para os crentes, Deus é o princípio de todas as coisas, e para os cientistas Ele está no fim de todas as considerações.

Link para publicação no Observador: aqui

Seis «Pedrógãos Grandes» por semana

10 Agosto, 2022

Desde o início do ano, em média, todas as semanas (sublinho, todas as semanas) acontece uma tragédia de dimensão equivalente a seis vezes a de Pedrógão Grande.

No incêndio de Pedrógão Grande morreram 66 pessoas. E desde 1 de Janeiro deste ano morrem cerca de 400 pessoas por semana em Portugal a mais em relação à respectiva média mensal correspondente dos últimos 10 anos.

A tragédia de Pedrógão é comparável com a do actual caos no serviço nacional de saúde porque num e noutro caso são acontecimentos excepcionais; porque resultam da incúria e falhas graves do Estado; porque o primeiro-ministro cobardemente se desresponsabiliza politicamente do sucedido; porque a ministra da pasta inventa narrativas capciosas e fantasiosas para justificar o injustificável; porque o governo e os seus assessores de imprensa tentam calar e evitar as investigações jornalísticas e as perguntas difíceis; porque o inenarrável ocupante da Presidência da República serve vergonhosamente de escudo às críticas a António Costa; porque a generalidade dos partidos políticos e a espécie de avençados do comentariado nacional fala baixinho e mansamente sobre o assunto e, finalmente, porque a generalidade dos Portugueses está-se verdadeiramente a marimbar para quem faleceu e para as suas respectivas famílias.

Aliás, a agenda partidária e mediática no nosso país aborda com muito mais frequência e entusiasmo de processos legislativos gizados à má fila para facilitar a eutanásia ou aborto do que para assegurar as condições de acréscimo de natalidade ou qualidade de vida aos idosos.

Como escreveu a minha amiga Ana Caraballo no Facebook, os nossos responsáveis políticos e dirigentes da DGS, perante os altíssimos números do excesso de mortalidade deste ano afiançam com certeza que “as pessoas morreram de calor. Os que morreram antes de estar calor, morreram de frio. Outros não aguentaram sequer temperaturas amenas. Caiem que nem tordos e se chatearem muito o governo com perguntas, regressam os confinamentos e volta tudo a morrer oficialmente de covid. Já os jornalistas têm centenas de médicos especialistas prontos a atestar o que for preciso para que não passe pela cabeça de ninguém que o governo deu cabo do SNS.”

Já João Miguel Tavares lembrou esta semana no Público e muito justamente uma louvável excepção de trabalho de investigação do jornalista Pedro Almeida Vieira da publicação online Página UM e tem sido na prática sabotado por diligentes funcionários públicos que retiraram o acesso a dados estatísticos sobre morbilidade e mortalidade hospitalar que dantes estavam total e completamente disponíveis online.

Assim se fazem as coisas em Portugal…

E, já agora, lembro que os tempos não estão para facilitismos e por isso, por amor de Deus não comam bacalhau à brás pelo menos até haver uma vacina contra esta iguaria.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Lucros extraordinários das empresas de energia

3 Agosto, 2022

Alguém se lembrou de criar um imposto extraordinário para taxar os lucros ditos “caídos do céu” que as empresas de testes covid ganharam desde que a palermia se iniciou em Março de 2020?

O primeiro-ministro não acha ser sua obrigação pedir desculpa pela arrecadação extraordinária de impostos que a inflação providencia ao Estado?

Não será o valor acumulado de impostos pornográficos já cobrados sobre os combustíveis ao longo dos últimos anos de uma magnitude superior aos lucros que as empresas de energia estão a ter agora com a subida dos preços?

Ancorados na manhosa lengalenga de ódio do bloco de esquerda e demais tontos esquerdistas à criação de riqueza, os nossos governantes veem agora mais uma oportunidade de cavalgar os sentimentos populistas mais básicos da vingançazinha invejosa sobre quem faz dinheiro no mercado. A conversa fiada dos “lucros extraordinários” é uma forma engenhosa de alimentar a narrativa mentirosa de que os lucros de uns resultam necessariamente em perdas para outros. No fundo, para estes pascácios neo-marxistas qualquer lucro é mau. Mas grandes lucros, esses, são intoleráveis. Por isso é preciso caçar implacavelmente essa riqueza produzida através da criação de novos impostos em cima dos já existentes, e que representam só por si mais um contributo para o esbulho fiscal.

Se, passe a redundância, os socialistas não fossem ignorantes dos princípios básicos de economia, não se esqueceriam tão facilmente de que os preços são formados no jogo da oferta e da procura e de que a subida e descida de preços é fundamental para assegurar a continuidade do fornecimento ao mercado. Os actuais lucros das empresas de energia não se devem à ganância ou à manipulação do mercado. Resultam sim da oferta – agora reduzida pelo boicote ao gás da Rússia e pela aposta suicida num mix energético que trata os combustíveis fósseis como pecado – e resulta da procura dos consumidores que se mantém inalterada. Uma vez que os lucros decorrem das condições do mercado é inútil e estúpido atribuir-lhes qualificativos morais como “injustos”, “excessivos” ou “escandalosos”.

Expropriar as empresas de energia dos seus lucros neste contexto é desincentivar a busca de soluções alternativas para fazer face à procura existente e só ajuda à manutenção de preços altos em prejuízo sobretudo dos consumidores com menores rendimentos.

É uma intervenção artificial, absurda e contraproducente por parte do Estado nos mecanismos automáticos naturais de ajuste entre a oferta e a procura. É uma sabotagem e desvio de riqueza para aumentar a cobrança de impostos, colocando mais dinheiro no orçamento gerido por políticos e burocratas não eleitos, prejudicando o bem-estar geral dos portugueses.

A morte e os impostos são das poucas coisas que podemos tomar como certas. Em Portugal, além disso, é certinho que aquilo que é apresentado como provisório e excepcional, se torna definitivo e permanente. E no nosso país temos uma quarta certeza: o que no início é para aplicar apenas a um grupo restrito de alvos acaba por se generalizar transversalmente a todos os sectores e actividades.

Portanto, se o governo, o presidente da república ou algum político disser ao leitor deste blog que um novo imposto incidirá apenas sobre as empresas de energia que estão a ter neste momento lucros mais elevados, fique sabendo que o estão a tomar por parvo. Estarão a mentir com todos os dentes que têm. E segure bem a sua carteira porque a conta vai sobrar para si.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

O erro de “impor” o liberalismo reduzindo impostos

27 Julho, 2022

Imposto é roubo! A subtracção de propriedade alheia contra a vontade da pessoa alvo desse acto, é uma violação de um princípio ético fundamental. O facto de a legislação o permitir e a sociedade se ter organizado em torno do estado para praticar o roubo fiscal, não legitima a prática de extorsão, mas apenas absolve o criminoso.

E, se em Portugal, ainda não chegamos à apropriação de 100% do produto do nosso trabalho qual a percentagem de carga fiscal que permitiremos que os políticos nos imponham sem nos vermos a nós próprios como escravos do estado?

A Iniciativa Liberal, que eu saiba, nunca chegou a admitir esta premissa básica e nunca teve como ponto de partida para o seu programa político a ideia de imposto ser roubo. Todavia, até há uns tempos, este partido distinguia-se dos outros pela sua defesa contra a enorme carga fiscal a que os Portugueses são sujeitos e pela defesa da baixa de impostos.

O lema da IL pela redução dos impostos tem-se, no entanto, revelado profundamente ineficaz e, diria mesmo, contraproducente. E por culpa própria da Iniciativa Liberal. Ninguém baixa impostos sem primeiro reduzir a despesa pública. Baixar impostos sem primeiro reduzir a despesa é querer apenas que a transferência das nossas responsabilidades para o Estado seja mais barata.

A Iniciativa Liberal tem um pregão e grita pela baixa de impostos, mas está calada ou fala muito baixinho quando se trata de definir linhas de rumo para a redução da despesa pública de forma permanente e sustentada que vá muito além do caso TAP. O que importaria seria defender a retirada do Estado de inúmeros aspectos da nossa vida, desde logo através de uma redução do âmbito do estado social. Caso contrário, defender menos impostos é, na prática, pedir e defender a manutenção de um estado socialista e uma sociedade estatizada, mas apenas tentando que nos roubem menos.

Se a IL se leva demasiado a sério e acredita que a sociedade se transforma com tentativas de impor o “liberalismo” à força sobretudo por via da redução dos impostos, parece não entender que para preservar a Liberdade, o partido deveria antes ter como bandeira e mensagem fundamental a redução do Estado.

Mas isso seria talvez contra-natura, porque é da natureza das coisas, mesmo para um partido dito liberal, ter por objectivo conquistar posição de poder e influencia, que inexoravelmente leva à mesma vertigem de manter na órbita do estado decisões e opções que deveriam ser devolvidas à responsabilidade de cada pessoa e família, sem controlo ou orientação por parte dos políticos.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Tribunal Constitucional e chinelos de praia

20 Julho, 2022

Em Portugal a silly season dura todo o ano. Ainda mais, agora, quando os portugueses estão na expectativa das suas férias e por isso não têm pachorra para reflexões e pensamentos que não seja a árdua tarefa de escolher os seus chinelos de praia.

Por isso passou e passará despercebida a declaração de inconstitucionalidade dos confinamentos e imposição de quarentenas a pretexto da covid 19 decretadas desde Março de 2020 pelo governo e promulgadas pelo presidente da república.

O Tribunal Constitucional veio recentemente dizer em acórdão que essas medidas constituíram uma forma de provação da liberdade total e inadmissível num estado de direito e que essas normas podem considerar-se mais gravosas até do que o encarceramento prisional. O Tribunal constitucional deixou claro que essas decisões do governo de António Costa foram um abuso desprovido de qualquer controlo ou sensatez.

Já poucos se lembram que em Abril de 2020, quando António Costa foi questionado sobre a legalidade das medidas tomadas Governo disse de forma bruta e típica de um tiranete: «Eu também sou jurista e sei a capacidade enorme que os juristas têm de inventar problemas. Felizmente, a realidade da vida é muitíssimo mais prática»; «Diga o que disser a Constituição». (Audio aqui, notícia aqui)

Na mesma altura António Costa disse com o seu habitual sorriso cínico «respeitar muito as dúvidas dos constitucionalistas» e passou a bola para Marcelo. Ora, Marcelo é Professor de Direito e Constitucionalista e enquanto Presidente da República é sua principal função zelar pelo cumprimento da Constituição do país. Não só não o fez, como Marcelo foi conivente com uma flagrante ilegalidade e incentivou na práctica à manutenção de uma inconstitucionalidade.

Em Portugal não existem processos de impeachment a presidentes da República pelo manifesto e grosseiro incumprimento das suas funções. Por isso Marcelo continuará impávido no Palácio de Belém. Quanto ao primeiro-ministro, os tiques de brutamontes político e falta de escrúpulos para se manter no poder são bem conhecidos e, portanto, não há nenhuma expectativa de um acto de contrição e muito menos de demissão.

A Democracia liberal é uma tentativa de proteger a liberdade das pessoas da intervenção abusiva dos governos. Não são os políticos que garantem a liberdade. Nem são as leis que tornam uma sociedade livre. Apenas as nossas atitudes pessoais nos podem proteger destas intromissões ditatoriais do Estado.

Durante dois anos e meio os portugueses foram condescendentes com tudo isto. Por isso, vão agora a banhos e apanhem muito sol, mas não fiquem escaldados quando descobrirem que Democracia e Liberdade são conceitos diferentes e nem sempre compatíveis.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Famalicão, temos pena

14 Julho, 2022

Evitei falar do assunto, mas vou agora fazê-lo. Eu não concordo com os pais de Famalicão. É uma luta sem direcção contra um regime que além de badalhoco mostra orgulho na sua gosma. Agora, que as coisas correram como o regime quis, não me resta alternativa que não a de os apoiar como for possível, mas continuo a discordar da atitude tomada em relação às aulas de Cidadania {sic}.

Parece que os jovens são excelentes alunos e apresentam uma personalidade de quem teve boa formação. Assim, é uma asneira não irem a Cidadania {sic}. Deviam ir e mostrar, em cada uma das aulas, o quão aberrante é a ideia de se preencher horários de professores com esta merda. Deviam levantar questões das que deixariam o professor boquiaberto (hoje em dia é preciso muito pouco, basta perguntar se um homem é aquele ser que tem um pénis). E, como cereja em cima do bolo, deviam contrastar as notas de 5 com um 2 ou, melhor ainda, com um 1 a esta carnificina mental de e para deficientes mentais (não é insulto, é diagnóstico).

Lamento que não o tenham feito. Teriam sido as notas de sonho para qualquer pai decente. Mesmo assim, com a oportunidade perdida, quero ver quem vai ser o funcionário da máquina que se arrogue o direito de manter a guarda dos jovens durante o tempo lectivo. Mais depressa me apanhariam a fazer amor com um porco em directo na televisão (pode ser artístico, se o porco for bonito e sensual) do que neste papel imundo que não sai com água do duche.

Só mamam e eu quero que mamem outros

14 Julho, 2022

A propósito dos dois últimos posts — uma expressão recorrente que se arrisca a uma cardinalidade crescente em homenagem a todos os números naturais —, alguém levanta o problema recorrente que consiste em “mamar na teta do estado”. É, realmente, uma questão séria para todos os liberais. Tão séria que até merece que deputados que se denominem liberais considerem abdicar de prestações pecuniárias para que não sejam vistos como seres mamadores da tão concorrida teta estatal. Isto porque, meus amigos, nós não somos de hipocrisias: apesar de não ser mamar, pois é a execução de um trabalho, de uma função essencial à democracia e a outras coisas bonitinhas sem qualquer significado que a malta regurgita alegremente do vasto pasto de clichês regimentais, poderia ser confundido com um cantor pimba qualquer, que vai ali cantarolar umas coisas sobre só levar no pacote (mensagem ecológica) ou enfiar na garagem da vizinha (cooperação estratégica e planeamento rodoviário para melhor fluxo de trânsito nas congestionadas cidades).

As câmaras municipais torram dinheiro dos contribuintes, disso não há dúvidas. Bem, há algumas dúvidas, mas são conceptuais, nomeadamente sobre se o dinheiro é dos contribuintes mesmo. Se uma árvore é roubada na floresta e continua a eleger os mesmos ladrões, será que foi mesmo roubada? — já questionava o velho dizer zen. Mas vamos admitir que torram. Torram então em maravilhosas edificações como piscinas municipais (por acaso estão encerradas para obras desde o dia em que foram autorizadas a abrir mal passou a tormenta da pandemia que passou a matar mais pessoas quando acabou do que durante — devem reabrir lá para… é este século, de certeza). Mas também em gimnodesportivos para idosos, parques de chuto com áreas de “arte” “urbana” (aquela que consiste em “Júlia, deixa que te vá ao pito” seguida da resposta “Quero tatuar o teu nome no anus, Fred Grosso”). Isto sem esquecer as maravilhosas rotundas com calhaus de diamante (pelo preço) a enfeitar e que representam a opressão do proletariado pelos russos portadores de monkeypox. Ou até sem esquecer os procedimentos lindos como compensar a autarquia por parcela de terreno não cedido sem que tal tenha sequer sido solicitado — foram 5000€ aqui do Gervásio só para não se armar em latifundiário de terreno previamente devoluto, fora as restantes taxas.

Consta também que pagam a músicos para entreter as populações. Alguns de gosto duvidoso, outros bem fixes, enfim, uma miríade de mamadelas de teta completamente diferentes das mamadelas da deputação nacional (diferentes porque os músicos efectivamente conseguem entreter alguém, mesmo sem estarem nas televisões 24 horas a mostrarem que qualquer corte precisa de bobo). Ou seja, de todo o dinheiro torrado pelas autarquias, aquele que é gasto com artistas é o que realmente pode originar satisfação dos habitantes locais.

Temos que acabar com isso. No próximo ano, quando chegarem as festas de Verão da vila, a autarquia deve contratar um deputado que entretenha com o seu discurso sobre a beleza que é viver em Lisboa, ser reconhecido na rua e participar em marchas de orgulho da supremacia gay. É o que vai cair mesmo bem com as farturas e o algodão doce.

Costa e os fogos: mentiras, palermices e irresponsabilidade

13 Julho, 2022

O sem préstimo do nosso primeiro-ministro já fez o paralelo entre a gestão da época de incêndios e a resposta do governo à epidemia covid. A estapafúrdia ideia da prossecução de uma política de “covid zero” tem de facto semelhanças com a espécie de slogan que alguns dirigentes da Protecção Civil persistem em manter de um “Portugal sem fogos”. É uma aberração, é contraproducente e nas palavras do arquitecto paisagista Henrique Pereira dos Santos um “Portugal sem fogos” é uma ideia criminosa.

António Costa não tem nenhum sentimento de culpa moral ou responsabilidade política pelas tremendas falhas dos vários organismos públicos na protecção e socorro às vítimas de Pedrogão. Nos incêndios de 2017, perante a tragédia resultante da incúria e inépcia do Estado, um ajudante político de António Costa ainda ensaiou a narrativa de que as dezenas de mortes naquela estrada fatídica se tinham ficado a dever à curiosidade das próprias vítimas em ver o fogo. Mas a única coisa que sempre preocupou António Costa foi a sua popularidade e, sobretudo, isentar-se e proteger-se de lhe serem assacadas responsabilidades políticas. Costa aprendeu o truque e este ano já culpou por antecipação os Portugueses pelas tragédias que possam vir a acontecer. Abanando a sua manápula sapuda disse: “Só não há incêndios se a mãozinha humana não provocar incêndios”. (vídeo)

Curiosamente há 5 anos o Director da PJ não só disse que tinha sido um raio de uma trovoada seca a provocar o incêndio de Pedrógão, como a Judiciária tinha até encontrado a árvore onde o dito raio tinha caído. Mas independentemente disso, o que Costa disse sobre a «mãozinha humana» é pura mentira como se confirma facilmente consultando os dados oficiais.

Há anos que o gestor ambiental e florestal João Adrião e o já citado arquiteto paisagista nos explicam de forma fundamentada e clara que uma política assente na tentativa de eliminar as ignições é uma palermice pegada. O que conta verdadeiramente para diminuir a ameaça dos incêndios à vida e património das pessoas é gerir o matagal, ervas e ramos que servem de combustível. Mas esses trabalhos de limpeza e gestão são realizados por pastores e resineiros que nada contam em termos de votos nas eleições. Por isso os socialistas preferem fazer números de circo que são populares num país como o nosso que prefere uma ilusão de segurança à responsabilidade da liberdade. Mais uma vez, António Costa atropela a Constituição, com a cumplicidade do Presidente da República e da generalidade dos partidos, e decreta administrativamente restrições à liberdade das pessoas e a direitos fundamentais dos indivíduos em vez de criar os incentivos económicos certos para que os anónimos que cuidam da terra façam o trabalho que mais falta faz à sociedade.

Quem fica a arder é a Liberdade. E o país.

O meu vídeo de hoje, aqui:

Urina na caverna ou o primeiro crítico segundo Mel Brooks

12 Julho, 2022

O meu último post originou um comentário curioso.

Rui Veloso parece-me mais um Tony Carreira para betos.

É curioso porque porque não sei quem é o vilão da frase. Serão os betos? Será o Tony Carreira? Será o Rui Veloso? Soa-me a uma comparação em tudo idêntica a “António Costa é o xerife de Nottingham dos esquimós”; ou ainda a “Cristiano Ronaldo é o Michael Jordan dos manetas”.

Como em Portugal é costume dizer mal de tudo, principalmente por aqueles que não metem o pescoço no cepo para apresentar alguma coisa, expondo-se o seu trabalho a um desdém pelos que em nada se sujeitam à humilhação pública, este tipo de frases sai constantemente, como um incentivo a que qualquer pessoa criativa se entregue mas é ao silêncio. Aquilo que vulgarmente se designa como pérolas a porcos.

Nunca estive num espectáculo em que não aplaudisse efusivamente os intervenientes. Eles estão lá em cima, num palco, a dar o seu melhor, e eu quero mostrar-lhes que aprecio o esforço, a dedicação e a coragem de se apresentarem em público. Tanto faz serem os Rolling Stones como a banda de garagem com instrumentos desafinados. Eu não tenho que gostar, mas aprecio o empenho e sinto obrigação moral de aplaudir alguém que, no mínimo tenta, em média consegue, comunicar com alguém. O Tony Carreira é um excelente intérprete. É um caso de sucesso, por mérito próprio, quer no cuidado com a produção, quer na capacidade de fidelizar um público que aprecia imensamente o seu trabalho. Não é tipo de canção que vos atrai? Não tem mal, mas escusais de desdenhar aqueles a quem as canções de Tony Carreira algo dizem.

Às tantas, se passássemos mais tempo a aplaudir o esforço dos que conseguem, de facto, tocar pessoas anónimas com o seu esforço, e menos a afagar o nosso ego sobranceiro de crítico, o país não seria a trampazinha que é. Até porque, já se sabe, quem sabe fazer, faz; quem não sabe vai para crítico ou professor.

Je suis Tony Carreira. E a parte do beto dou completamente de barato.

Volta ao lugar onde foste feliz

11 Julho, 2022

Ontem assisti a mais um concerto do Rui Veloso. É sempre extraordinário, mesmo quando as condições técnicas não são as ideais — o homem passou todo o Porto Covo a afinar a Duesenberg Mike Campbell que quase nem foi usada (mesmo assumindo que estava bem afinada e ele decidiu baixar o tom para mi bemol, seria de esperar haver um briefing com o staff para prevenir estas coisas). E é extraordinário por dois motivos: começando pelo segundo motivo, é a banda. Poderia sublinhar qualquer um, da fabulosa subtileza eficaz da bateria ao piano do Rúben Alves, passando por todos os outros em palco, mas tenho que destacar um: Alexandre Manaia, com a sua t-shirt “Mingos e os Samurais”, nunca fazendo esquecer através das suas PRS e Guild que em 1990 “the grass was greener” e “the light was brighter”. Quem não quereria na sua banda um tipo que sabe complementar sem assassinar, que brilha precisamente por não tentar brilhar? O que me leva ao primeiro motivo: as canções.

É uma piroseira, em Portugal, dizer bem de alguma coisa. A gente quer é dizer mal de tudo, do que efectivamente está mal, mas sobretudo daquilo que nós, à parolo, temos a percepção de que “não está mal mas eu faria melhor, só teria que aprender a escrever, a compor e a tocar um instrumento”. As canções são imortais e, por muito que formalmente pertençam à dupla Carlos Tê/Rui Veloso, na realidade são de todos nós, os quase velhotes que as sabemos de cor e salteado e que, nem que quiséssemos – mas não queremos – conseguiríamos retirar da banda sonora da nossa juventude, de uma era em que tudo eram promessas, optimismo, a certeza de que para a frente tudo seria melhor. Dezassete anos separam-me do Rui Veloso, mas não consigo imaginar conhecer o homem e não o tratar por tu. É que uma parte dele, não a do homem mas a do músico faz parte do meu cérebro. Em parte é como se vivesse também ali, num cantinho de onde nunca saíra. Ao lado dele estão as letras do Carlos Tê: eu sou o gajo que ainda vibra e há-de vibrar com rimas como as de Mandrakes com almanaques. Podia referir coisas consideradas maiores, como algo de “a gente não lê” ou “regras da sensatez”, mas serão sempre as coisas pequeninas, os detalhes, que se fixarão no meu cérebro confuso de teenager de meia-idade ou de velho precoce e impertinente.

Perdemos a capacidade de nos fascinarmos. Como tal, perdemos a capacidade de reconhecer as maravilhas que nos rodeiam e as que já estão embrenhadas na nossa psique. Talvez porque passamos demasiado tempo a mostrar aos outros nas redes sociais que nos divertimos em vez de nos divertirmos, ou talvez porque o país é só promessas e zero concretização, uma morrinha desinteressante em que a cultura é um mero acessório do poder político para a promoção de uns chatos sem nada a dizer. Pelo menos, sem nada a dizer sobre mim e sobre os que me rodeiam.

Enfim, a haver uma tragédia nacional é a de Carlos Tê não estar virado para novos discos. Pelo que li numa entrevista, já não acredita no poder de relevância da “música ligeira”. Está errado. Daqui para a frente não parece haver nada que nos salve que não a música. E ninguém documentaria melhor os tempos que ficarão perdidos no registo histórico como o de um buraco negro de Teslas, Facebooks e gadgets do que a dupla Tê/Veloso. E pronto, dificilmente deixaria a minha portugalidade evidente sem uma crítica: é essa, a de que ainda teriam muito a dizer. Vejam lá se conseguem resolver essas diferenças que há aqui gente do outro lado à espera enquanto na rádio passa aquela “música” computadorizada sem qualquer resquício de alma.

Comer bosta no restaurante seria apenas oficializar o que já fazeis

9 Julho, 2022

Suspendo por breves minutos a aposentadoria bloguista, como a avó embevecida pelos elogios às saudosas rabanadas que se levanta, orgulhosa, para queimar um lote de frituras perante a misericordiosa anuência dos netos ao reconhecerem que os intragáveis torresmos são efectivamente os únicos que merecem o título de rabanadas a sério. Sabeis então, caríssimos leitores, que ireis comer carvão adocicado no caso de manutenção de convicção de leitura para o parágrafo seguinte.

O governo holandês quer impedir os agricultores do seu país de produzirem para que, com isso, demonstrem não sei bem o quê a não sei bem quem. Parece ser algo relacionado com óxido de nitrogénio, portanto, é uma senha persecutória do governo holandês à natureza para defesa desta. Como qualquer indivíduo abusivo que espanca a mulher para o bem dela. Aliás, todas as ações governamentais para “salvar o planeta” podem ser assim resumidas: a salvação do planeta consiste num soco bem dado nas ventas dos humanos. Viveríamos todos melhor se deixássemos de querer salvar o planeta, mas parece que mais vale um planeta salvo sem dentes do que um planeta saudável com dentes ou, acabando com a analogia já demasiado lateral para o mundo básico da inginheirada e economizada que nos evidencia ser necessário defender o aborto com unhas e dentes, “com carbono”.

A polícia manda uns tiros, e está resolvido o problema. Havereis de ter menos gado: comei merda. Merda esta que parece ser o problema ambiental identificado pelos especialistas. É o que se chama a ciência de “olhar-se ao espelho”, o que não surpreende, pois não há mais nada, só um bando de exibicionistas que acumulam a idiotice com o desejo da imprensa em ser a criadora da escala da cretinice “ocidental”.

Agora vou fazer rabanadas, enquanto há pão. A continuar assim, nem gado nem cereais nem vegetais haverá para comer — o que até me parece bem, pois um especialista no espeto poderá ser uma alternativa que mata dois coelhos com uma cajadada só.

A resistência dos Pais de Famalicão

6 Julho, 2022

Embora todas as evidências apontem para que Marcelo Rebelo de Sousa se tenha deslocado ao Brasil em férias de praia, a verdade é que o nosso Presidente da República viajou até ao Rio de Janeiro e São Paulo a convite do Presidente Jair Bolsonaro, eleito com o voto de 58 milhões de brasileiros. E também ao contrário do que dizem vozes mais assanhadas, Marcelo não está senil; caso em que seria inimputável. Ao contrário, o conhecido amante de surf de Cascais está perfeitamente lúcido e consciente do que faz e não faz. Por isso, deve ser responsabilizado pelo desastre diplomático que provocou durante a sua visita oficial ao Brasil. O seu narcisismo exacerbado e manipulação da opinião pública através de orgãos de comunicação social servis e deslumbrados não se compagina com o mínimo de sensatez e cumprimento de protocolo que seria exigível a um diplomata em início de carreira.

Ainda esta semana assistimos também à triste saga do Ministério Público em vez de se dedicar a proteger crianças de lavagens cerebrais patrocinadas pelo Estado criticar os Pais dos alunos de Famalicão por defenderem os seus filhos de preceitos ideológicos contrários à sua forma de ver o mundo. O Ministério público arrogou-se até de forma acintosa e primitiva no direito de tomar o lugar de educador do povo e quer impor a estas crianças a tutela da escola.

Importa dizer que apesar do Ministério Público e do juiz de comarca terem claramente excedido e abusado da sua posição e mandato, prevalece na sociedade a perigosa ideia de que a escola deve educar. Confunde-se facilmente e demasiadas vezes «instrução» com «educação». À escola compete ensinar Português, Matemática e outras matérias fundamentais. E sabemos que já é difícil em disciplinas como Biologia ou Ciências da natureza não haver preleções de activismos ideológicos….

Mas é aos Pais que compete orientar as crianças sobre o que é o Bem e o Mal. É às famílias e não à escola que compete cultivar nas crianças uma moral. E por isso, se por preguiça, desleixo ou manifesta irresponsabilidade transferirmos essa incumbência para a Escola acabamos por tornar os nossos filhos reféns da ética e moral de terceiros e potencialmente escravos de quem está em posição de poder. Isto torna-se evidente no ensino público que está na órbida directa do Estado. Mas o risco também existe nos colégios privados e religiosos que não se importam de sacrificar uma verdadeira autonomia dos seus projectos ao aceitar por exemplo, contratos de associação com o Estado e condicionar na prática os seus programas às orientações do ministério da educação. Por muito boas intenções que haja, é certo e sabido que quem paga as contas é quem manda.

Tomara que a louvável e heroica resistência dos Pais de Famalicão sirva em primeira instância para assegurar a liberdade dos seus filhos, mas também de alerta de consciência a todas as famílias portuguesas.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Oceanos apocalípticos

29 Junho, 2022

Ninguém sabe o dia nem a hora, mas o fim dos tempos está próximo. O céu e a Terra desaparecerão. Não será deixada pedra sobre pedra. As nações levantar-se-ão umas contra as outras, e haverá fomes e terramotos em muitos sítios. Serão dias de horror. Os homens desmaiarão de terror. Os céus desaparecerão com grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada. Tenham cuidado e que ninguém vos engane. Conservem-se alerta e vigilantes. Esta geração não passará sem que todas estas coisas aconteçam. Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. E as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar.

Ora, é precisamente sobre o mar e os oceanos que a ONU organizou uma conferência em Lisboa, evento no qual o nosso ex-primeiro ministro do pântano – António Guterres – veio deixar uma mensagem que parece inspirar-se nas diversas passagens bíblicas que acabei de citar.

Ora veja: vídeo ao 1m.13s

Como seria de esperar, se um diz «mata», a cambada habitual diz «esfola». E assim foi. O ocupante do palácio de Belém disse as patetices e nulidades do costume. O nosso caudilho à conversa mole e pastosa de Guterres deu um ar de dinamismo abrutalhado e prometeu “acções drásticas”. Até Carlos Moedas, na sua voz de pífaro esganiçado, proferiu um discurso grandiloquente e pretensiosamente poético em que disse rigorosamente nada.

A narrativa de António Guterres tem a mesma moderação e racionalidade de uma seita religiosa apocalíptica. É um discurso belicista que incita ao medo e promove ansiedade. É um sermão mirabolante que rejeita o método científico e fomenta crendices activistas. Mas, na verdade, a “humildade” e pensamentos “profundos” deste molengão não passam de uma banal altivez, típica da classe dirigente instalada e deslumbrada com a sua própria suposta superioridade moral. É apenas entulho de uma conversa fedorenta que não é própria de um secretário-geral da ONU, assim como a ladainha tremendista de Guterres não é digna de um homem adulto.

Portugal é um circo

22 Junho, 2022

O SNS está em frangalhos há vários anos e só um idiota inútil acredita na bizarria de tal situação calamitosa não ser consequência directa da incúria, incompetência e amiguismo do governo socialista. Marcelo Rebelo de Sousa acha que o problema é “estrutural” e não deste governo, o que demonstra e ilustra perfeitamente a bondade da adjetivação que usei na frase anterior.

De resto a situação no país é a habitual: o gigantesco stock da dívida pública continua a aumentar, a inflação dispara à custa das políticas do BCE e da União Europeia que António Costa considera maravilhosas, a TAP continua uma vergonha de serviço e um espantoso sorvedor de dinheiro dos contribuintes.

Na comunicação social nada de novo. A RTP, sustentada com rendimentos subtraídos aos portugueses, tem o desplante de assumir a sua condição de organização de propaganda de narrativas fanático-tremendistas e nomeia uma editora de acção climática que não faz jornalismo nem tem vergonha na cara de subverter o primeiro preceito do código deontológico da profissão. O Público, que é há muito um pasquim escatológico, continua a voluntariamente a se entregar às causas LGBT e da ideologia do género. O Expresso, destacou um rapaz para escrever um novo manifesto anti-Chega travestido de notícia e de forma imunda e torcida sugere que André Ventura promove teorias da conspiração que resultam em massacres de pessoas.

O desgraçado e ridículo presidente da Associação Empresarial de Portugal em vez de pedir que o Estado saia da frente dos negócios privados e deixe os empresários trabalhar e arriscar, suplica tão tristemente quanto um janado pela mão protectora do Estado. Diz o homem que o governo deve dar às empresas 26 mil milhões de euros, dinheiro este – para quem não se lembre – que é retirado através de impostos aos contribuintes europeus.

Entretanto, alheios à penúria do país e gastando o que não é deles, os chefes de banda locais fazem-se passar por gente arejada e moderna. Bacalhau Coelho e Cabrita (“Reis”, de apelido) entenderam-se. O primeiro, presidente da Câmara de Faro, pagou 200.000 euros por uma escultura do segundo, artista. No passado recente, a Câmara de Matosinhos já tinha também adjudicado a Cabrita Reis, mas por valor superior, uma espécie de estendal de roupa para a marginal de Leça de Palmeira, obra que jaz agora enferrujada frente ao oceano para gaudio dos carapaus da costa.

Também em Alijó, uma pequena terra no Douro, não podia faltar uma exposição com 15 mamarrachos de pessoa com grande peso artístico: Joana Vasconcelos. Por uns módicos 100.000 euros, organizou-se uma mostra que durou três meses e terminou Domingo passado. Não sei quantas pessoas terão visitado a exposição, mas se tivesse sido feita uma vaquinha entre toda a população do município para pagar a conta, dava só 10€ a cada. O curador desta mostra justificou o evento como uma insurgência contra uma “realidade comezinha e o fado predestinado de um país remediado, condicionado do ponto de vista económico.”

O Presidente da República, sempre atento aquilo que é importante, assinalou ontem o que ele próprio considerou uma “efeméride”: o dia internacional do Ioga. Marcelo escreveu um comunicado a propósito da data “saudando o crescente número de portugueses que aderem a esta prática ancestral originária da Índia”.

Portugal é um circo e os palhaços somos nós que assistimos ao espetáculo.

A minha crónica, em vídeo, aqui:

O beijo

19 Junho, 2022

Hoje no Observador escrevo sobre o que une estas duas imagens: de Pedrogão em 2017 às urgências em 2022, Marcelo beija, Costa diz que na semana seguinte estará tudo resolvido. O beijo de Marcelo é o símbolo do regime a que estamos entregues: o patético-socialismo.

Carta de Senhora de 86 anos a um Pároco

17 Junho, 2022

Revº Pároco Luis Mateus,

Actualmente não resido em Santo Tirso, mas aí nasci e fui criada e essa será sempre a minha terra.

Talvez por isso, o que lá se passa me toca em especial e me sinta na obrigação de o alertar para o que observei na Missa de celebração do Corpo de Deus, às 11h30.

Além do desnecessário uso generalizado de máscara (inclusive uma criança que ajudava a acolitar), o gel desinfectante parecia fazer parte da liturgia e foi usado despropositadamente
– pelos leitores
– no ofertório, ao deitar as moedas no cesto
– antes da comunhão, em que a Sagrada Hóstia era depositada nas mãos ainda besuntadas.

Aconteceu até que, nessa altura, quando me defendi da pistola de gel que o acólito me apontava, apanhei com a sua expressão de desprezo e indignação…

Não, não sou uma jovem «negacionista». Sou apenas uma mulher «de risco» de 86 anos!

É bem natural que V. Revª nem se aperceba da carga negativa e comentários desagradáveis que tais procedimentos provocam.

Peço desculpa por estes reparos, mas creio que a evangelização passa também por bom senso e esclarecimento.

Com toda a consideração,
Mafalda Fernandes

17 de Junho de 2022

Que bom é o «velho normal» do Primavera Sound

15 Junho, 2022

Com bilhete comprado em 2019 e depois de consecutivos adiamentos a pretexto da covid19 fui a um grande festival de música. Dezenas de milhar de pessoas num mesmo local, ao mesmo tempo, sem a porca da máscara, sem certificado proto-nazi, e sem qualquer desumano distanciamento social. No jornal online Observador vi a propósito do evento um título decente. Dizia: “Que bom é o «velho normal» do Primavera Sound”.

Algumas das perguntas que me ocorrem são: Como foi possível, durante mais de dois anos uma larguíssima maioria das pessoas entregar-se a um pânico totalmente injustificado com um único vírus respiratório? Como foi possível hipnotizar uma vasta população e deixá-la em alvoroço apocalíptico levando gente outrora racional a uma corrida desenfreada por papel higiénico como se isso fosse o fundamental para os seus últimos dias de vida? Ou como foi possível que pessoas minimamente informadas não tivessem noção do ridículo que foi meterem um trapo na cara para supostamente se salvarem de uma infecção?

Talvez pior ainda. Como foi possível a políticos e responsáveis técnicos subverterem uma boa gestão de saúde pública e promoverem a discriminação activa e a coerção em vez da escolha médica informada e da responsabilidade individual? Como foi possível a médicos e cientistas proeminentes vilipendiarem outros colegas, fiéis aos princípios da ciência e ao juramento de Hipócrates, e denigrirem-nos chamando-lhes de chalupas ou negacionistas?

Numa sociedade cheia de ansiedades, egoísmos e hipocrisias que corroem o discernimento moral das pessoas não importa que as ideias e políticas sejam totalmente absurdas e falsas. O que importa é que todos canalizem as suas frustrações e angústias para uma mesma luta, adiram a uma mesma narrativa e formem uma massa homogénea missionária com o mais cretino e salafrário objectivo: a defesa do que a classe dirigente determine ser o bem-comum.

O fascismo é a arte de esconder a verdade por trás de uma fachada de virtude, estigmatizando a diferença de opinião, discriminando minorias, identificando bodes expiatórios e gerindo a sociedade para a obediência coletiva e a conformidade às normas de quem está no poder.

O mais repugante e nauseabundo exemplo disso mesmo talvez tenha sido o mentiroso slogan da “pandemia de não vacinados” como ufanamente Paulo Portas chegou a referir na sua missa dominical na TVI.

Como é possível uma sociedade relativamente próspera e de pessoas com nível de educação razoável descer tão rapidamente às profundezas de um inferno totalitário assim que alguém dá um grito de alarme? O que leva tanta gente a comportamentos compulsivos e repulsivos?

Por muito evoluídas que sejam as nossas sociedades, o fascismo é um modo de vida escondido no armário de demasiada gente. Os campos de concentração e extermínio não nasceram do nada. Como alguém disse antes de mim, “são apenas o estágio final e desconcertante de um longo processo e, em última instância, é a consequência lógica da crença delirante na omnipotência da racionalidade humana” neste caso, contra a natureza de um vírus.

O meu vídeo de hoje, aqui:

Teletrabalho e redução de salários

8 Junho, 2022

A pretexto da fantasia de combate à covid19 e num contexto da aldrabice pegada da situação de emergência que à data o país vivia, o governo decretou confinamentos, fecho de actividades económicas e, durante muito tempo, obrigou ou aconselhou o sector privado ao teletrabalho. O vírus foi e é naturalmente indiferente a estas medidas estúpidas e totalmente ineficazes do ponto de vista de saúde pública. Mas a economia e os portugueses não foram nem são imunes às idiotias e erros clamorosos de António Costa e do grupo dos seus subalternos ministros.

Se em Portugal os sindicatos já têm uma influência desproporcionada em relação ao número de pessoas que efectivamente representam e ainda por cima introduzem uma narrativa perigosa e nociva de confronto entre os interesses dos trabalhadores e dos empresários, a imposição legal e a transição forçada de grande parte da população activa para trabalho remoto criou ainda maiores distorções no funcionamento das empresas e do mercado de trabalho. Por exemplo, muitos são agora os trabalhadores que se sentem no direito de exigir trabalhar em casa e não nos escritórios das suas empresas.

Portugal não é caso único.  Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, ofereceu aos seus funcionários a opção de poderem trabalhar remotamente dois dias por semana e mais quatro semanas completas em teletrabalho por ano. Ainda assim alguns funcionários contestaram o seu chefe alegando razões estapafúrdias tais como a de com esta decisão a Apple passar a privilegiar homens brancos… Também Elon Musk, o dono da Tesla, parece querer terminar por completo com o teletrabalho dos seus funcionários e sugeriu há dias que quem não quiser regressar aos escritórios poderá ir fingir trabalhar para outras empresas.

Na América como em Portugal são muitas as empresas ansiosas para que os funcionários voltem ao escritório, pois acreditam que isso é melhor para a produtividade, a moral dos trabalhadores e a cultura organizacional das empresas. Todavia os funcionários estão relutantes em desistir do novo equilíbrio entre vida profissional e pessoal que lhes foi concedido pelo teletrabalho.

Mas a verdade é que as decisões do governo em mandar para casa os trabalhadores introduziu uma cláusula excepcional e temporária à maioria dos contratos de trabalho, onde normalmente se determina que os funcionários devem trabalhar na sede do seu empregador ou noutro local que este indique. São poucos os contratos que não preveem que a escolha do local de trabalho é prerrogativa do empregador.

Uma vez que a directiva do governo para teletrabalho obrigatório deixou de existir, a relação de trabalho volta aos termos do contrato original. Com certeza que o contrato de trabalho pode ser alterado, mas apenas por meio de negociação razoável entre o empregador e o trabalhador.

Se um patrão oferece ao empregado a opção de continuar com o mesmo salário se este regressar ao escritório tal como sempre fez até agora por livre acordo entre as partes, que justificação existe para reclamar? Se o trabalhador pretende uma mudança dos termos e condições do seu contrato de trabalho, estará por exemplo disposto a aceitar uma redução do seu salário?

A minha crónica vídeo de hoje, aqui:

ISCTE com WC não-binários

3 Junho, 2022

O Observador noticia hoje que o ISCTE “deixa cair a placa de homens e mulheres e passa a ter casas de banho não-binárias”.

Para dar substância à peça, a jornalista recolheu depoimentos de uma única especialista, curiosamente concordante com a iniciativa.

Esta especialista é a Doutora Liliana Rodrigues que tenho o gosto de apresentar através das seguintes imagens:

Os justiceiros sociais do ESG

1 Junho, 2022

Os justiceiros sociais notabilizam-se por serem tiranetes e fascistas que não saíram do armário e, passe a redundância, por não perceberem nada de economia e desprezarem a liberdade de todas as pessoas que não elas próprias. São como que umas criancinhas enfezadas que inventam problemas existenciais que não têm para se entreterem no tempo disponível que a sua posição de privilegiados na sociedade lhes dá de sobra.

Nas tristes cabecinhas destes presunçosos, toda a acção humana é política. Por exemplo, a actual presidente da câmara de Barcelona ficou conhecida não pela sua gestão na cidade, mas pelo expoente máximo do seu activismo quando resolveu deixar-se fotografar a urinar em plena rua da capital Catalã como forma de acção política.

Mas se as necessidades fisiológicas humanas têm uma essência política, estes wokes umbiguistas entendem que, por maioria de razão, as empresas e os investimentos financeiros devem cumprir normas e ser avaliadas por critérios e que eles definem como ética e socialmente justos. Insere-se neste quadro mental a converseta aparvalhada dos conceitos imbecilóides de “resiliência”, “sustentabilidade” ou “inclusividade”. Para dar um ar mais sério a esta palhaçada, os consultores e o pessoal do marketing resolveu aplicar estas definições às empresas chamando-lhes parolamente de políticas e factores ESG, o acrónimo inglês referente a Ambiente, Sociedade e Gestão.

Os critérios e definições que a seita de novos evangelistas usa são altamente subjectivos e até dependentes de contexto. Mas esta gente acha que a imposição de restrições aos investimentos é compatível com o aumento da rentabilidade esperada das empresas.
Esquece é que a imposição de critérios políticos para investir, classificados eufemisticamente de investimentos socialmente responsáveis, cria enormes distorções que são contraproducentes. Na verdade, ninguém com cabeça sã pode imaginar ser no interesse das empresas exterminar a humanidade com alterações climáticas antropogénicas. Não me parece dar jeito às empresas ficar sem clientes… Num horizonte temporal normal, o bem social e os interesses financeiros não são antagónicos. Pelo contrário, convergem.

Criticar o ESG não é negar nenhum problema social ou ambiental. Decorre isso sim da clara percepção de que o mantra parareligioso da moda parte de pressupostos errados e, se cumpridos com a obediência própria de fundamentalistas, terá no mundo e na vida das pessoas a consequências exactamente opostas às intenções inicialmente declaradas.

Os proponentes das políticas ESG dizem que o ESG torna as empresas mais lucrativas e valiosas. Aparentemente concordam com Milton Friedman que defendia que empresas se deviam concentrar em entregar lucros e valor aos seus acionistas, em vez de serem activistas sociais. A diferença está em que Friedman tinha a humildade que os fanáticos do ESG não têm de reconhecer que são os empresários quem melhor sabe gerir as suas próprias empresas e que quem fôr incompetente será penalizado pelo mercado e não pelos sábios justiceiros sociais.

A minha crónica vídeo de hoje, aqui:

Inveja dos super-ricos

25 Maio, 2022

A Oxfam é uma organização, supostamente não-governamental, mas que tem um orçamento superior a mil milhões de dólares com origem sobretudo em subsídios de diversos governos. Tornou-se uma agremiação de activistas da esquerda radical com discurso neo-marxista.

O Fórum Económico Mundial foi fundado por um sinistro economista alemão e a instituição tem-se dedicado a promover algumas das ideias mais perigosas e nefastas para uma sociedade livre. No encontro anual do Fórum Económico Mundial em Davos, a Oxfam apresentou pela enésima vez um alerta dramático sobre a crescente desigualdade no mundo. E há dias fez títulos de jornais a sua estimativa de que durante a pandemia surgiram no mundo mais 573 multimilionários e que a cada 33 horas mais um milhão de pessoas entra na pobreza.

Há décadas que Oxfam tenta provar que a riqueza do mundo está concentrada nas mãos de uma conspiração maligna de indivíduos super-ricos e que os ricos só ficam mais ricos à custa dos pobres.

Para estes fanáticos esquerdistas, a riqueza é essencialmente má e imoral. A sua solução milagrosa para acabar com a pobreza e a desigualdade é sempre a mesma: um ataque fiscal, impostos sobre a riqueza, impostos extraordinários e a expropriação de fortunas. Este ano querem um imposto único sobre os chamados “lucros pandémicos inesperados” e um imposto de 90% sobre todas as grandes empresas que tenham tido lucros durante a crise da covid e da Ucrânia.

Entre muitas outras parvoíces e asneiras, a Oxfam não percebe porque é que a pobreza no mundo diminuiu drasticamente nas últimas décadas, assim como ignora capciosamente o facto de a riqueza não existir naturalmente. A riqueza não cai do céu, nem brota do chão. A riqueza é fruto do engenho, iniciativa e esforço humanos. Toda riqueza teve primeiro de ser criada antes que alguém a possa roubar ou dela beneficiar honestamente. A riqueza tem de ser criada e produzida e a principal maneira de ficar rico é produzir algo que as pessoas valorizem. Ao contrário do que diz a Oxfam, a riqueza é uma das principais recompensas do trabalho produtivo. Impostos sobre a riqueza reduzem o incentivo à produção.

Por outro lado, um bilionário não pode simplesmente levantar toda a fortuna ao balcão de um banco. Tipicamente apenas 1% da riqueza do bilionário é mantida em dinheiro. O grosso dessa riqueza está em acções das suas próprias empresas, juntamente com aplicações financeiras, metais preciosos, imobiliário e outros activos. Portanto, a ideia adolescente da Oxfam de ir caçar a fortuna dos super-ricos exigiria uma gigantesca venda de ativos, e incluiria por exemplo mandar para o desemprego milhares de trabalhadores das empresas desses bilionários e esvaziar fundos de pensões de milhões de pessoas da classe média. Além de que a expropriação de riqueza dos super-ricos só aconteceria uma vez e não daria para distribuir nada nos anos seguintes.

Não se melhora as condições de vida dos pobres tirando riqueza ou rendimento aos ricos. Precisamos é de economias mais produtivas, menos estado e mais trocas comerciais livres como queria a Oxfam aquando da sua criação no tempo da segunda grande guerra.

A inveja é um sentimento muito feio!

a minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

Contra o suicídio das civilizações

20 Maio, 2022

Segue-se um excerto de interessante discurso de Václav Klaus, na The Conservative Political Action Conference, em Budapeste (Hungria), ontem, 19 de Maio.

Tradução livre minha para Português:


O mundo pós-democrático contemporâneo, mais ou menos socialista, conjugado com um progressismo agressivamente imodesto e quase anárquico, com uma cultura arrogante do cancelamento e os excessos quase inimagináveis ​​da revolução de género, é o oposto do mundo que queríamos construir.

Como aconteceu? Terá sido porque as nossas velhas, bem definidas e amplamente aceites ideias conservadoras se tornaram obsoletas, inadequadas, talvez inaplicáveis ​​no atual admirável mundo novo, que ainda está à espera dos seus recém-nascidos Huxleys e Orwells? Devemos, portanto, renovar, modernizar, reformular essas ideias? Ou nós “só” temos que regressar a elas?

A minha resposta a esta pergunta é simples e bastante modesta: creio que é suficiente voltar às nossas ideias. No entanto, fazê-lo seria uma conquista revolucionária – não apenas pela força inegável dos nossos oponentes e inimigos, como muitas vezes se argumenta.

Vejo muitos problemas e inconsistências do nosso lado. As nossas ideias conservadoras não foram suficientemente expostas e promovidas durante muito tempo – pelo menos desde os anos 1960, desde as barricadas em Paris de 1968 e a Students for Democratic Society in America. O problema foi ampliado pela evidente passividade dos pensadores conservadores após a queda do comunismo, quando o mundo ocidental ingenuamente aceitou a tese do “fim da história” de Fukuyama e se tornou injustificadamente garantido que as ideias sobrevivem, funcionam e vencem sem serem constantemente defendidas e promovidas.

As perdas que vejo estão tanto no campo das ideias quanto nos arranjos institucionais radicalmente modificados do mundo ocidental, especialmente aqui na Europa. No campo da ideologia, vejo as principais mudanças para pior nos seguintes campos:

˗ na vitória dos «direitismos-humanos» sobre os direitos cívicos entendidos de forma conservadora e sobre o princípio tradicionalmente definido de cidadania;

˗ numa perda de liberdade ligada ao facto de a democracia liberal progressista ter conseguido substituir a liberdade por direitos. A ideologia dos direitos positivos alcançou o status de religião cívica;

˗ na vitória do ONGismo, do poder de grupos de pressão não eleitos e interesses adquiridos sobre a democracia parlamentar pluralista;

˗ na vitória do ambientalismo agressivo sobre a racionalidade elementar e o bom senso, sobre a sabedoria do cidadão comum, sobre o pensamento económico conservador;

˗ nas consequências do facto de os crentes no Estado-nação terem mais ou menos capitulado no seu confronto com as organizações internacionais (na Europa com a UE);

˗ na interrupção da continuidade. A sociedade ocidental começou a distanciar-se das suas raízes culturais e históricas e da longa tradição de moderação e decência;

˗ na negação da existência da natureza humana. Os expoentes da revolução sexual conseguiram transformar homens e mulheres, o hardware biológico da sociedade humana, num software cultural e social;

˗ e, finalmente, nos novos padrões morais e comportamentais que substituíram tradições e valores conservadores.

Tem também uma componente institucional. Todas estas mudanças foram possibilitadas pela negação do papel dominante dos Estados-nação na estruturação da sociedade humana e pelo crescente papel das organizações e instituições internacionais. O movimento em direção a uma governança global e sub-global, o que significa Europeia, levou à supressão do único garante eficiente da Democracia, o Estado-nação.

Os Estados-nação soberanos tornaram-se uma unidade política fundamental dos assuntos internacionais. O modelo existente do processo de integração europeia, em que a integração se transformou numa unificação e centralização europeia da tomada de decisões, e em que a liberalização se transformou em harmonização, padronização e uniformidade, tornou-se o principal veículo para a perda do pensamento conservador nesta nossa parte do mundo.

Estamos na defensiva há muito tempo. Uma ofensiva autoconfiante baseada na convicção de que as ideias importam e que as ideias conservadoras são parte fundamental e insubstituível deve ser iniciada. Há uma necessidade desesperada de defender o muito frágil Ocidente dos seus inimigos intelectuais internos. Não é só na Hungria que temos que lutar contra o crescente protagonismo dos expoentes do «Homo Sorosensus» e a ascensão das elites cosmopolitas.

Não devemos permitir que os progressistas dominem a política, os media e o sistema educacional atuais. James Burnham disse que “as civilizações morrem apenas por suicídio”. Receio que a nossa falta de actividade possa facilmente levar a tal fim. Como disse antes, a queda do comunismo e o fim da Guerra Fria minaram a consciência e o estado de alerta anteriores.

O mesmo erro não deve ser cometido novamente. O conservadorismo nunca significou uma rejeição a priori de mudanças fundamentais e de uma descontinuidade radical com o passado. Certamente não sou o único que sente que chegamos a um ponto de viragem. Devemos começar a defender e promover activamente as ideias que herdamos dos nossos antecessores.


Acima, excerto do discurso de Václav Klaus, na The Conservative Political Action Conference, em Budapest (Hungria), a 19 de Maio de 2022.

O original completo pode ser lido aqui.